Por Ines Andrade, de Política / JC Ser um político capaz de unir palanques.
Foi essa uma das mensagens que o governador Eduardo Campos (PSB) procurou transmitir quando esteve semana passada em Goiana, Mata Norte, e é assim que vem buscando fazer em muitas das suas viagens pelo interior.
Pessoas ligadas a ele recordam da passagem do governador por Arcoverde, Frei Miguelinho, Vertentes, Limoeiro, Salgueiro, quando os rivais dos municípios ficaram lado a lado no mesmo evento.
Uma estratégia muito usada pelos governadores e que Eduardo Campos tem procurado aproveitar, de olho em 2010.
Uma forma de querer demonstrar sua força política e, paralelamente, o enfraquecimento da oposição no âmbito estadual.
Fontes do governo calculam que cerca de 160 municípios, dos 184 do Estado, podem ficar nessa situação.
A força agregadora do poder não é nova.
Geralmente os governantes, que podem usufruir da máquina administrativa e estabelecer parcerias com as prefeituras na execução de obras e projetos, têm o magnetismo de atrair aliados.
Mas há quem considere a contribuição de outros elementos nesse esforço do Palácio.
Hely Ferreira, cientista político, avalia que Eduardo Campos tem sido um político habilidoso.
Suas caravanas pelos municípios (a intenção do Palácio é ir a todos eles até o final do ano) têm permitido trabalhar nessa demonstração de apoio.
Outro fator, elenca Ferreira, é o imaginário popular, pois a figura do governador está atrelada ao “mito” Miguel Arraes e ao presidente Lula.
E Eduardo Campos tem procurado aparecer sempre com o presidente, que tem forte aceitação no Nordeste e a chave do cofre dos recursos federais (a maior parte do bolo tributário do País está nas mãos da União). “Eduardo tem conseguido aproveitar tudo isso.” O deputado estadual João Fernando Coutinho (PBS) lista as áreas em que o governador reúne os palanques. “Em Tamandaré, tanto o prefeito quanto a oposição votam no governador.
Na Mata Sul, onde faço política, a oposição não tem palanque”, garante.
Prefeitos de partidos adversários a Eduardo Campos já sinalizaram apoio ao governador.
Em Orobó, Manoel João dos Santos (PSDB) afirma que estará com o senador Sérgio Guerra (PSDB), mas também com Eduardo.
Manoel lembra que, no passado, esteve do lado de Miguel Arraes.
CONSISTÊNCIA Mas o gesto simbólico dos prefeitos é sustentável?
Hely Ferreira acredita que isso é muito relativo. “O governador é forte candidato à reeleição, mas não é imbatível.” A oposição também lança mão desse argumento.
Para o deputado estadual Augusto Coutinho (DEM), cada município é uma realidade e a polarização sempre vai existir. “Se o político é inimigo do prefeito e este fica do lado do governador, o seu adversário vai para o outro lado.” Augusto Coutinho chama atenção ainda para o desconforto e a ciumeira que o governador provoca em suas bases, ao trazer os adversários para o mesmo palanque.
Para agradar a todos e amenizar climas como esse, Eduardo Campos procura enaltecer a “visão larga” dos gestores.
Foi o que aconteceu em Goiana. “Já vi esse filme antes, quando o PSB governava o Estado e tinha apoio de quase todos os prefeitos mas perderam a eleição (Arraes X Jarbas, em 1998).
O governador quer passar a imagem que está forte e consolidado.
Mas isso é medo de disputar com Jarbas (senador Jarbas Vasconcelos, PMDB)”, ataca Augusto Coutinho.