A Jaqueira e o bode Por Priscila Krause Seria elogiável, se não fosse estranha, a atitude de defesa do Parque da Jaqueira pelo prefeito João da Costa.

São tantas as razões que levam a essa afirmação que enumerá-las seria escrever uma longa folha de malefícios ao meio ambiente.

Entretanto, é preciso não esquecer que o prefeito já foi secretário de Meio Ambiente do outro João.

E nesse tempo demonstrava um enorme descompromisso com as questões ambientais da cidade do Recife.

Senão vejamos: Com relação às Zonas Especiais de Proteção Ambiental, as Zepas, dois exemplos são dramáticos.

A Zepa de Apipucos foi reduzida sem nenhuma justificativa técnica plausível, e a sua redução permitiu a aprovação de projetos de torres nas margens do Açude de Apipucos – anunciados inclusive pelos jornais como um belo negócio imobiliário.

A Zepa da Ilha do Zeca, localizada atrás do Sport Clube do Recife, na Ilha do Retiro, também teve a área substancialmente reduzida para lançamento de empreendimentos imobiliários que estão em análise na prefeitura.

Sem discussão.

Sem apresentação de justificativa técnica.

Feita por decreto pelo todo-poderoso prefeito João Paulo, assessorado pelo seu secretário de meio ambiente João da Costa.

A orla de Boa Viagem, que é uma Zepa, teve a intervenção urbana de sua recuperação executada passando por cima da legislação de proteção que exigiria estudos de impacto ambiental.

Da mesma forma, o Parque do Caiara foi invadido por uma “refinaria” chamada “multicultural” – que lá está como um esqueleto – sem que nenhum estudo de impacto, nem nenhuma justificativa fosse dada para a redução do parque e a construção daquele monstrengo.

Assim como se quer fazer no Sítio Trindade, área de preservação rigorosa, histórica e ambiental, onde o prefeito pretende implantar mais uma “refinaria” de esqueleto “multicultural”.

Podemos lembrar ainda da Área de Proteção Ambiental (APA) do Engenho Uchôa.

Engenho Uchoa defendido há décadas pelo povo do Recife, que agora é objeto de uma proposta de intervenção – que não vai acontecer – para implantação de empreendimento para triagem e reutilização de lixo urbano.

Aliás, nesse aspecto, já houve, no projeto que nasceu morto – o “Recife Energia” – uma proposta para instalar, na área de proteção dos rios Morno e Beberibe, perto da Macaxeira, uma estação de compostagem e triagem de lixo urbano.

A população de lá se lembra disso.

O secretário João da Costa, assessor do prefeito João Paulo, foi um dos responsáveis pelas iniciativas que transformaram o Parque Boa Viagem no elefante de concreto branco do Parque Dona Lindu.

Mais uma vez passando por cima da população e da legislação ambiental de proteção de áreas de interesse do cidadão.

A Via Mangue, executada na sua primeira fase e inaugurada festivamente, foi feita sem estudo de impacto ambiental, aterrando parte da Bacia do Pina – à luz do dia!

Desrespeitando normas ambientais federais, estaduais e municipais.

Assim é tratado o meio ambiente por um governo que vem, há quase uma década, demonstrando não só descuido, não só desatenção, mas realizando intervenções danosas e prejudiciais à cidade do Recife e ao seu meio ambiente.

No caso da Jaqueira, esse parque já é do povo.

Não será uma trapalhada do PT, dos correligionários do prefeito João da Costa, que vai fazer com que o Parque da Jaqueira perca a sua função urbana.

A titularidade desse imóvel, se pudéssemos utilizar o instituto da usucapião, é do povo do Recife, que já tem sua posse mansa e pacífica – e portanto, invendável.

Não será com o Parque da Jaqueira que o presidente do INSS – correligionário de João da Costa – vai fazer dinheiro para resolver o problema da Previdência.

Isso seria alcançado com uma gestão competente, coisa que eles não sabem fazer.

Seria bom que o súbito interesse em defender a Jaqueira fosse estendido para todas essas áreas citadas, para as ações de planejamento, para o meio ambiente que se deseja pro Recife, para o cuidado com as áreas verdes – que estão hoje todas marrons: os nossos jardins, parques e praças estão marrons, porque se deixou de aguar as áreas verdes, em qualquer lugar do Recife.

Aí está a política ambiental da atual gestão municipal: fazer jogo de cena para encobrir a vergonha de não possuir política ambiental.

Aliás, em matéria ambiental, o Parque da Jaqueira é o bode na sala, ou melhor, na praça, para depois fazer de conta que salvou o meio ambiente da cidade.

Não nos espantemos se aparecerem alguns outdoors de agradecimento…

Com a palavra a PCR, caso ache necessário