Por Álvaro Filho Está certo que a Justiça tarda, mas assim é exagero.

A prefeitura de Olinda vai cobrar uma dívida de 500 anos, da época de Duarte Coelho.

Ninguém sabe como o primeiro donatário da Capitania Hereditária de Pernambuco usaria o dinheiro, mas certo mesmo que não era para calçar a rua do Fortim.

Até porque o forte não havia sido construído em 1537.

Daquela época, só os buracos, verdadeiro patrimônios históricos da humanidade, talvez a melhor desculpa para que ninguém tenha tido coragem de tapá-los.

Feliz era Duarte Coelho, pois a roda da carroça dele não furava porque era de madeira.

Ainda não recebi uma das sete mil cartas enviadas cobrando o xexo do meu tatatatatatatatataravô e fiquei na dúvida se o boleto virá pelo correio ou amarrado na canela de um pombo, como se fazia cobrança expressa na época.

No lugar do código de barras, imagino, há um carimbo com a insígnia do Império.

Só não sei se o valor é em reais ou vinténs?

Estou curioso se pode dividir também em 500 anos.

Daria umas seis mil parcelas mensais, um carnê da espessura de um paralelepípedo.

Como o Banco do Brasil foi fundado apenas em 1808, o devedor secular deve ir diretamente ao primeiro andar do Museu do Estado e depositar a quantia numa barroca caixa de jóias, que repousa numa cristaleira século 16, à esquerda do penico de louça portuguesa.

Fique atento às punições, que também remontam ao período imperial, e vão desde chibatadas no pelourinho a usar uma máscara de ferro, em caso de atraso.

Ao invés de ter o nome publicado no SPC, o contribuinte que não quitar o débito pode terminar empalado ou ter os ossos esticados numa roda.

E não se esqueça de manter guardados todos os recibos.

Pelo menos nos próximos cinco séculos. Álvaro Filho é jornalista