Editorial do Jornal do Commercio desta quarta Na última quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado finalmente aprovou o fim da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permitia ao governo federal ficar com 20% dos recursos do orçamento destinados à educação.

Se senadores e deputados aprovarem a medida no plenário, a regra entrará em vigor somente a partir de 2011.

Mas já em 2009 e 2010 a educação sofreria retenções menores, o que significaria R$ 4 bilhões e R$ 7 bilhões a mais para o setor nestes anos, respectivamente.

Muito além de mera “recomposição dos investimentos”, trata-se de fechar a torneira para um escoamento injustificável, num país com o déficit educacional como o Brasil.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) de 2008, divulgada no mês passado pelo IBGE, o analfabetismo no País manteve-se praticamente estável entre 2007 e 2008, atingindo pouco mais de 9% da população.

No Nordeste, quase um quinto das pessoas com 15 anos ou mais são analfabetas.

Na faixa acima de 25 anos, o percentual daqueles que não sabem ler nem escrever chega a um quarto do total.

Na região rica, o Sudeste, o índice teve uma pequena subida, mas continua baixo em relação ao Nordeste, sendo de apenas 5%. “Enquanto houver um único brasileiro sem alfabetização, o Estado tem que agir”, comentou o ministro da Educação, Fernando Haddad.

Infelizmente não é o que se observa – pelo menos, não dentro das reais necessidades da indigência educacional brasileira.

No âmbito local, matéria do Jornal do Commercio, no domingo (11), revelou o panorama lamentável do ensino em Pernambuco.

Tendo por base os dados obtidos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), foram constatadas graves deficiências na formação dos professores no Estado.

Da falta de infraestrutura à defasagem curricular, os mestres deixam a desejar dentro da sala de aula, comprometendo o desempenho dos estudantes e ajudando a minar o futuro dos nossos jovens.

Documento da Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unesco), intitulado Professores do Brasil: impasses e desafios, divulgado no começo de outubro, chama a atenção para os baixos salários pagos à categoria no País.

No Nordeste, mais da metade dos docentes ganha menos de R$ 530 por mês.

Com baixa remuneração, a atividade de ensino ainda atrai abnegados, mas muita gente também abraça a função por falta de opção.

Sem perspectivas de ganhos financeiros, por outro lado, o interesse em qualificação é pequeno, sobrando para os alunos, que penam para aprender coisas básicas.

O círculo vicioso é montado: professores mal pagos e insatisfeitos à frente de um sistema ineficiente que forma outros professores mal preparados.

O que era para ser uma prioridade nacional parece ter sido assumido como problema sem solução. “Tem dinheiro para as Olimpíadas, mas não tem para investimentos educacionais”, criticou o consultor da Unesco Célio Cunha, que coordenou a pesquisa.

A escassez de investimentos, a insustentável continuidade da massa de analfabetos e a má formação dos professores compõem ângulos de um único e triste cenário – bem diverso do apresentado recentemente pelo jornal Le Monde, que se referiu à situação atual como sendo favorecida por um “sopro de oxigênio” no sistema universitário nacional, “digno dos desafios da economia do conhecimento”.

Pois é justamente no contexto da economia do conhecimento que o Brasil patina e vai ficando para trás, em relação a outros países emergentes que estão fazendo o seu dever de casa e investindo alto em educação.

Na direção correta, a Prefeitura do Recife anunciou dias atrás a inauguração do Centro de Formação de Professores Paulo Freire, na Madalena, voltado para a requalificação dos profissionais da rede municipal.

Vamos torcer para que o fim da DRU viabilize outras iniciativas como esta, em um movimento pró-educação que se espalhe por todo o território nacional.

O Brasil não pode se dar ao luxo de seguir adiando o dever de casa.

A formação daqueles que detêm a árdua tarefa de nos lançar ao futuro precisa deixar de ser assunto de pura retórica, e a educação, com urgência, deve ser um compromisso político traduzido em consequências reais.