Por Jorge Cavalcanti, de Política / JC Toda cidade do interior tem ao menos uma praça, uma igreja e suas autoridades: prefeito, juiz, promotor, delegado e o padre.

Localizado na Zona da Mata Norte, o município de Tracunhaém – conhecido como a “terra do barro” – também tem.

A diferença é que nenhum deles mora na cidade.

Estão sempre de passagem.

Chegam, cumprem expediente e saem.

Para eles, não há prejuízo em residir em outro local, desde que o ofício seja cumprido.

Mas a população de Tracunhaém, estimada pela Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) em cerca de 13 mil habitantes, reclama.

Considera-se abandonada.

Vizinha de Carpina e Nazaré da Mata, as “primas ricas”, Tracunhaém foi palco, no mês passado, de uma manifestação contra a onda de violência na cidade.

Em 2008, foram quatro homicídios registrados.

Neste ano, foram contabilizadas oito vítimas só nos últimos três meses.

Apesar de todos os inquéritos ainda estarem em aberto, o protesto colocou o município no noticiário, o que parece ter reduzido a sensação de insegurança.

Mas ainda há o sentimento de abandono entre os tracunhaenses. “Exerço o meu trabalho normalmente”, diz o delegado Odívio Vasconcelos, minimizando o fato de morar em Recife.

Há quatro meses na cidade, ele conta com apenas um escrivão e cinco agentes.

Em razão do cargo, a prefeita Graça Lapa (PSB) é o maior alvo das críticas.

Com residência em Carpina e Jaboatão dos Guararapes, ela não vai à cidade diariamente. “Tem semana que ela vem dois, três dias.

Mas também tem semana que vem todos”, avisa a secretária da prefeita.

E Graça não pretende alterar a rotina de trabalho. “Tem prefeito que praticamente mora em Brasília.

Se eu ficar aqui, vou administrar miséria.

O município tem muita arte, mas não tem recursos”, justifica, reclamando da penúria financeira, agravada com a redução do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Mas a dificuldade de caixa de Tracunhaém não deveria ser novidade para a prefeita, que já administrou a cidade.

Por outro lado, as críticas por residir em outro município também não são novas.

Os adversários da família Lapa tentaram barrar a candidatura à reeleição de Graça em 2004, alegando que Tracunhaém não poderia constar como domicílio eleitoral.

Mas a prefeita possui uma casa na cidade e conseguiu uma vitória na Justiça Eleitoral, mas perdeu nas urnas.

Retornou ao cargo no início deste ano.

O presidente da Câmara, Luiz Paulino da Silva (PT), hoje rompido com Graça, aproveita a queixa da população para tentar desgastá-la. “Aqui é atrasado por causa disso. É todo mundo de fora”, diz o vereador, que nasceu em Macaparana (Mata Norte) e morava no Recife até ser eleito.

Agora, divide-se entre a capital e Tracunhaém.

Os mais votados na cidade para a eleição proporcional também são de fora.

Para a Assembleia Legislativa, Carla Lapa (PSB) e Antônio Moraes (PSDB) foram os preferidos, numa extensão da disputa que ambos travam em Carpina.

Para a Câmara Federal, foram Carlos Lapa (PSB) e Bruno Araújo (PSDB).

O primeiro não se elegeu.

PARÓQUIA A comunidade católica do município vive a expectativa de deixar de ser um “rebanho sem pastor”.

O padre Sérgio Santana de Souza, que mora em Nazaré da Mata, vai passar a residir na cidade quando a casa paroquial ficar pronta.

A expectativa é que a obra seja finalizada até o início do próximo ano. “Para um povo, a presença dos referenciais é importante e fala alto.

Afasta o sentimento de exclusão”, avalia ele.

Quando uma cidade é elevada à paróquia, o padre é obrigado a fixar residência no local.

A cidade também vai ganhar um promotor titular – fato inédito até então.

Tracunhaém era termo de Nazaré da Mata até 2006, quando foi desmembrado.

Mas continuou sem titular por causa do déficit de promotor.

Maria Conceição Nunes da Luz foi designada.

Ela poderá morar na cidade ou optar por residir em outra, se julgar mais adequado.

Caberá ao Conselho do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) avaliar.

Mas é comum decisão favorável nestes casos.

Procurada, a promotora não quis falar, assim como a juíza da cidade, Aldileide Paes Miranda Galindo.

Ela também não mora no município.