(Foto: Hélia Scheppa / JC Imagem) Por Jamildo Melo, direto de Cabrobó Especial para o Jornal do Commercio O presidente Lula quebrou completamente o protocolo, em sua visita à vila de Junco, na área rural de Cabrobó, onde participaria do sorteio simbólico de 52 casas para assentados que foram retirados do caminho da transposição do São Francisco.
O presidente abandonou o discurso que faria no evento e passou todo o tempo sorteando as casas para as familias de produtores rurais.
No melhor estilo Silvio Santos, como um animador de auditório, tomou o microfone e chamava as pessoas ao palco.
Abraçou homens, senhoras e pegou crianças no colo, fez piada com o grande número de filhos de um senhor, distribuiu o boné, chamou até um câmara da tv oficial para ajudar nos sorteios.
Lula vestia uma camisa vermelha e fez questão de pedir licença aos presentes para sortear a casa de número 13, sem citar o nome do seu partido.
O roteiro original previa o sorteio simbólico de três casas e cinco discursos oficiais.
No fim da cerimônia, o presidente Lula despediu-se dos presentes com mais promessas. “Tá só começando”.
Depois de ter afirmado que viveu três dias de muita emoção na viagem pelo Velho Chico, Lula comparou-se ao imperador Pedro II.
Com vantagem para ele, é claro. “Essa obra era inacreditável.
O imperador tentou e não conseguiu.
Nós resolvemos e vamos fazer”, disse.
A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, não acompanhou a comitiva, viajando para um evento do PAC em Forteleza, no Ceará.
O deputado federal Ciro Gomes, do PSB do Ceará, participou do evento e aparentava estar muito feliz.
No palco, chegou a suspender, com um abraço, um dos populares.
Lula mudou o roteiro da caminhada pelo São Francisco, para ir até o interior do Ceará com o ex-ministro da Integração Nacional. “É um espetáculo o projeto.
Eu estou vivendo um sonho, depois de 30 anos de luta por essa obra”, afirmou, antes do evento.
De acordo com as informações do Ministério da Integração Nacional, os assentados deverão tomar posse das casas até o final do ano e começar a produzir já no próximo ano.
No local, são 80 famílias beneficiadas, com a entrega das 50 casas para os assentados.
Em todo o projeto, estão previstas 18 vilas produtivas rurais, sendo 16 no Eixo Norte (que leva água para Paraíba e Rio Grande do Norte) e duas no Eixo Leste, que leva água para o Ceará, passando por Cabrobó e Salgueiro.
Em Pernambuco, estão em construção quatro vilas em Salgueiro, duas em Cabrobó, mais uma em Verdejante e Sertânia.
Em cada uma dessas vilas, os assentados ganharão cinco hectares de terras para a produção.
Destes, apenas um dos lotes será irrigado.
O ex-miinistro Ciro Gomes disse, no evento, que a água sairá de graça para esses colonos, graças ao esquema de subsídios cruzados.
Ele informou que o custo de produção e manutenção do sistema chega a R$ 176 milhões por ano, mas não se paga, mesmo com a venda da água para empresas de irrigação e concessonárias como a Compesa.
O morador Paulo Manoel da Silva, de 40 anos, casado e pai de três filhos, disse que não via a hora de receber a terra, para voltar a plantar.
Nos ultimos dez meses, o produtor esteve empregado na obra de construção da vila, recebendo R$ 500 por mês, como vigia.
Sem saber pronunciar a palavra alvenaria, ele contou que morava numa casa de pau a pique e que espera melhorar de vida com a produção. “Antes tinha inverno de três meses, mas agora a gente pode perder tudo (se plantar, dependendo do regime de chuvas”, explicou.