Por Mendonça Filho Em maio, quando o Governo Federal, através do Ministério da Educação, anunciou a extinção do vestibular e a adoção do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) como forma de acesso às universidades públicas, nós, do Democratas Pernambuco, fomos a público e à Justiça para mostrar que a mudança da forma como foi feita – no meio do jogo e de forma apressada - traria sérios problemas para alunos, professores, pais e todos que de alguma maneira estão envolvidos no processo.

Cinco meses depois, não nos causou qualquer surpresa o vazamento das provas do ENEM e o cancelamento do exame, anunciado na madrugada do dia 1 de outubro pelo ministro Fernando Haddad.

Isso por uma razão simples: uma mudança da dimensão do ENEM não se faz do dia para a noite.

Até porque, o ENEM envolve uma estrutura gigantesca que passa pela definição de conteúdo (que demorou a ser delimitado, prejudicando alunos e professores) até aspectos fundamentais como segurança na lisura do processo seletivo (que padece de vulnerabilidades).

O vazamento das provas e o adiamento do ENEM foram mais uma etapa neste processo atabalhoado, onde a imagem se repete: jovens sem saber o que fazer, universidade desistindo de adotar o ENEM como critério de seleção.

Só em Pernambuco pouco mais de 200 mil pessoas fariam as provas.

Não bastasse esse quadro de total desrespeito com esses jovens, testemunhamos um inadmissível desperdício de recursos públicos: um prejuízo de R$ 35 milhões para os cofres públicos, uma vez que 4 milhões de provas precisarão ser reimpressas.

E cada um de nós brasileiros vai ter de arcar com tal desacerto.

Inaceitável.

Sempre nos posicionamos favoravelmente à adoção do ENEM como porta de acesso à universidade e deixamos isso claro.

Nossa “briga” foi contra a forma como a mudança foi feita, deixando os alunos desorientados e estressados e os professores sem saber como fazer para transmitir da melhor forma o conteúdo em tão pouco tempo.

Fomos à Justiça pedir que a instituição do ENEM não fosse feita este ano justamente para dar tempo a todos: ao Governo para montar a estrutura necessária, aos alunos para entenderem o processo e terminarem o ano fazendo a prova para a qual começaram a estudar, e para os professores nivelarem o conteúdo.

A implantação de um projeto da dimensão do ENEM exige um tempo mínimo de dois a três anos para que todas as fragilidades possam ser adequadamente sanadas.

Mas a Justiça entendeu que o Democratas, enquanto partido político, só poderia defender os interesses dos seus filiados.

Como no Enem haviam jovens de diversos partidos e muitos nem sequer filiados a alguma sigla, o mérito sequer chegou a ser julgado.

Resultado: a mudança, como previmos, foi posta em prática expondo todas as fragilidades e trazendo enormes prejuízos.

Neste momento em que o País inteiro se mostra indignado com os desacertos do ENEM, inclusive segmentos aliados ao Governo do PT que até então permaneciam em silêncio conivente, o Democratas de Pernambuco vem a público reafirmar o nosso entendimento de que o processo começou errado.

Se não por vaidade, por interesses outros do ministro e do Governo, que não são o de estudantes, professores do próprio processo de melhoria do ensino.

Reafirmamos, também, a nossa convicção na prerrogativa do partido político para defender os interesses da sociedade como um todo, independente da crença política dos envolvidos.

Até porque, entendemos que é função básica de um partido político defender os interesses da sociedade, além do seu quadro de filiados.

No nosso entendimento essa é a “boa política”, ou melhor, a política na sua essência, visando o interesse da coletividade.

PS: Mendonça Filho é presidente estadual do Democratas e ex-governador