Por Giovanni Sandes Cristiano do Monte de Souza, 32 anos, é um desempregado pai de duas crianças que vive em uma casa literalmente desabando.

Entre paredes despedaçadas, vive no Distrito de Três Ladeiras, zona limítrofe entre os municípios de Igarassu e Itaquitinga, na Zona da Mata Norte.

As duas cidades têm cerca de 70% da população mergulhados na pobreza.

Cristiano só teve carteira assinada uma vez, quando cortou cana para a Usina Petribu, um emprego temporário.

Sonha com um trabalho regular e, em vez de buscar uma grande indústria, briga por uma vaga em um complexo prisional.

A escolha aparentemente inusitada de Cristiano tem uma razão simples.

Ontem, a seis quilômetros da casa dele, o governo estadual promoveu um grande evento: o lançamento da pedra fundamental e assinatura da ordem de serviço das obras do Centro Integrado de Ressocialização (CIR) de Itaquitinga, parceria público-privada (PPP) que vai gerar 3.000 postos de trabalho em 18 meses de construção e 1.200 empregos na fase de operação.

Centenas de pessoas foram ao evento, recheado de notáveis do mundo político.

As escolas da região suspenderam as aulas e dez ônibus levaram a claque, com direito a banda marcial, para o descampado onde ficará o complexo.

Cristiano não foi.

Esperava a esposa, que saiu às 5h para levar ao médico seus filhos, uma consulta sobre irritações na pele. “Aqui é muito ruim.

Não passa ônibus, não tem emprego.

Não tem ajuda nem de prefeitura para ajeitar as casas.

Já deixei meu nome para trabalhar no presídio duas vezes.

A última foi na terça-feira passada”, diz Cristiano. “Faço qualquer coisa.

Faço de tudo.

Trabalho de pedreiro, servente, vigilante.” “A maioria aqui trabalhava na usina.

Para o povo mais novo não tem emprego.

Meu filho, Jurandir da Silva, agora está fazendo biscate por aí.

Mas já deixou o nome para trabalhar nesse negócio”, conta Severino Dias da Silva, 66 anos, também ex-funcionário da São José.

Os moradores locais interessados em trabalhar, diz o presidente do Consórcio Reintegra Brasil, Eduardo Fialho, devem procurar a Agência do Trabalho mais próxima, até para que o processo seletivo dê preferência à população local.

Mas emprego não é o único “prêmio” que provoca expectativa sobre o centro de ressocialização.

Sentado à beira da estrada que conduz ao terreno de 98 hectares do complexo, Inácio Antão Dias, 75 anos, diz que ele e seus vizinhos nem cogitam ter medo de uma eventual rebelião, nem do elevado número de detentos do centro: 3.126. “Tá vendo a poeira que sobe quando passa carro?

Se estivesse chovendo, não tinha poeira, mas também não tinha quem passasse”, observa. “Pelo menos disseram que vão ajeitar a estrada”, ressalta Inácio.