Por Terezinha Nunes Acostumado a adotar atitudes sensatas em sua política externa, o que lhe conferiu um status especial no relacionamento entre as nações, o Brasil sairá dessa mal sucedida operação “Honduras” menor do que entrou.
Aliás, muito menor.
Embarcamos na estratégia tupiniquim do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, transformamos, vergonhosamente, nossa embaixada em um território livre para o ex-presidente Zelaya tentar voltar ao poder – coisa jamais vista no cenário internacional – e acabamos passando pelo vexame de ouvir uma reprimenda da OEA que concluiu ter sido uma “irresponsabilidade” a intervenção brasileira no episódio.
Perdemos, com isso, respeitabilidade e, sobretudo, vamos carregar, até que o episódio seja digerido ao longo da história, a imagem de um intervencionismo descabido nos assuntos internos de um outro país, coisa que jamais gostaríamos que fosse feito conosco.
Num primeiro momento e no afã de tentar se explicar, o Governo Lula “ vendeu” aos brasileiros e aos demais países a idéia de que agira de forma humanitária, abrigando alguém que chegara à porta de sua embaixada pedindo asilo.
Logo depois a explicação se desfez quando o próprio Chávez deixou claro que,não só promoveu a volta de Zelaya,como deu ciência ao Itamaraty sobre isso e deixou nas entrelinhas subentendido que “combinou” com o Governo brasileiro toda a operação realizada.
Ou seja, o Governo Lula sabia que Zelaya estava regressando e que iria à embaixada brasileira se abrigar.
E o pior: não o reconhecendo como asilado, permitiu que o mesmo usasse o território brasileiro, garantido pela Embaixada, para conceder entrevistas, incentivar a população a reagir, enfim, fazer o que bem entendesse.
Mesmo que amparada pelo artigo 239 da Constituição hondurenha que prevê punição para o dirigente que se movimentar no sentido de aumentar seu mandato – como desejava Zelaya – não se pode aprovar a deposição do presidente eleito da forma em que se deu, sobretudo porque o mesmo foi transportado para o Exterior, mas também não se deve interferir nos assuntos internos de um país, como fez o Brasil.
Se sanções tivessem que ser feitas que ocorressem nos organismos internacionais, no nível diplomático ou até com o recurso da pressão econômica.
O Brasil, porém, preferiu o caminho do golpismo, o mesmo que percorreu o presidente de facto Roberto Micheletti.
Perdeu com isso a possibilidade de negociar uma saída para a crise.
E o pior: nos deixou expostos a um vexame sem tamanho.
Felizmente nossa Embaixada não foi invadida, o que nos levaria, por falta do poder de reação,a uma desmoralização ímpar.
O próprio ministro Nelson Jobim disse que nem que quiséssemos poderíamos responder militarmente a Honduras.
Nossas armas no máximo protegem as nossas fronteiras.
Micheletti não economizou palavras para mostrar os excessos cometidos pelo Brasil : “ vosso país permitiu que Zelaya convocasse à insurreição e à violência da varanda de sua embaixada “ afirmou a jornalistas brasileiras.
Analisando o episódio se conclui que o presidente Lula se encontra de tal forma convencido de que tudo pode que a qualquer momento pode jogar o país numa enrascada difícil de ser enfrentada.
Atravessamos um período bom a nível internacional mas a nossa imagem pode ser maculada num piscar de olhos se atitudes semelhantes continuarem a ser tomadas.
PS: Terezinha Nunes é deputada estadual do PSDB