A tão sonhada Ferrovia Transnordestina pode ser uma faca de dois gumes para o polo gesseiro do Araripe.
Explica-se: ao mesmo tempo que vai otimizar o escoamento de gesso e gipsita, pode fazer com que a região sertaneja vire apenas um local de extração de matéria prima, pois não tem uma matriz energética competitiva.
Vamos por partes: Hoje, sem a ferrovia, os empresários do Araripe têm de vencer no mínimo 800 quilômetros para fazer a carga chegar aos portos ou às regiões metropolitanas nordestinas.
Se pensarmos no mercado do Sudeste, principal comprador de gesso (somente São Paulo representa 35% a 37% do consumo de gesso para construção civil), a distância aumenta ainda uns 3 mil quilômetros.
Resultado?
O custo fica elevado e nossos produtores perdem competitividade.
Com o protocolo assinado com a Transnordestina Logística nesta sexta-feira (2), em Trindade, no Sertão de Pernambuco, a partir de 2011, a meta é transportar 1,5 milhão de toneladas de gesso e gipsita/ano para todo o Brasil e exterior.
Essa facilidade, no entanto, também representa perigo.
A matriz energética utilizada hoje no Araripe (geralmente lenha da caatinga e coque) não é nada competitiva (nem ecologicamente correta), quando levamos em conta que outros municípios utilizam gás natural para fazer queima direta.
O que pode acontecer é que com a facilidade de receber matéria-prima através da Transnordestina, empresas fechem ou mudem de endereço, passando a produzir em locais com maiores facilidades e que tranformam o produto em algo mais competitivo.
Nesse cenário, caberia ao Araripe o papel de mero fornecedor de gipsita.
Atento a isso, o Senai encomendou um estudo para encontrar uma nova matriz energética.
O relatório básico fica pronto em quatro meses.