Amigos, Estou indignado.

Encaminhamos um projeto de extensão ao MEC/SESU em junho/2009, tendo em vista edital que estava aberto às instituições de ensino superior para que apresentassem propostas de projetos de extensão no valor de até R$ 30.000,00.

O projeto que enviamos foi aprovado e, inicialmente, comemoramos.

Pois bem, desde maio/2009 coordeno este projeto intitulado “PIRRAIAS DA UFPE: NÃO QUERO ESMOLAS, QUERO DIGNIDADE”.

O objetivo do projeto é desenvolver atividades esportivas e de caráter pedagógico com os meninos que circulam no estacionamento do Centro de Educação e CFHC/UFPE de modo que eles mantenham rendimento escolar satisfatório, deixem de mendigar, recebam orientações dos 06 estudantes de licenciatura que participam do projeto e aprendam valores humanos e comportamentos em consonância com a formação de um cidadão crítico, democrático e responsável.

A maioria desses meninos deixou de mendigar.

Fizemos acordo com eles, estamos dialogando, auxiliando na formação desses garotos, antes que mais um traficante qualquer o faça.

Vários docentes do CE/UFPE já elogiaram a iniciativa e comentaram que, de fato, a mendicância na frente do CE e CFHC diminuiu.

No projeto, que posso disponibilizar na íntegra se alguém desejar, está previsto a compra de material esportivo para as atividades, lanche para os meninos (30 adolescentes), uniformes e tênis (vários deles participam descalços) e bolsas no valor de R$ 220,00 mensais para 04 desses estudantes que, além de trabalhar todos os sábados das 09:00 às 12:00 horas, acompanham o desenvolvimento escolar desses meninos durante a semana.

O orçamento foi devidamente detalhado ao MEC/SESU, certamente, por isso também, o projeto tenha sido aprovado.

Agora, em outubro/2009, recebendo essa mensagem pela PROEXT/UFPE, vejo que a burocracia emperra, tenho que registrar, carimbar, provar que o projeto existe, que sou honesto, que faço licitação e que os alunos da UFPE envolvidos de fato existem, preencher mais formulários, copiar e colar o projeto que já está disponível no próprio site do MEC, enfim, ler os artigos 1o e 2o da Lei 11.788, de 25 de setembro de 2008, o Acordão 2.261/2005 e o artigo 1o da Portaria interministerial MPOG/MF 127/2008, o decreto 6.752 de 28/01/2009 e 6.808 de 27/03/2009.

Depois de ler todos esses documentos e legislação pertinente para atender às exigências da liberação de recursos e enviar os documentos solicitados, a Diretoria de Desenvolvimento da rede IFES-DIFES/SESU/MEC ainda vai analisar o plano de trabalho (que já foi aprovado pelo Centro de Educação da UFPE, PROEXT/UFPE e MEC/SESU) para verificar se está tudo OK.

Sim, teremos que encaminhar essas planilhas com assinatura do magnífico Reitor da UFPE que, felizmente, é acessível e dinâmico para firmar osprojetos que conseguimos aprovação.

Sinceramente, essa burocracia toda evidencia que Educação no Brasil não é prioridade de governo.

Acho melhor continuar investindo meus R$ 30,00 semanais no lanche desses meninos, talvez fazer uma campanha de arrecadação de tênis usados na UFPE dê mais resultado do que esperar a chegada desses R$ 30.000,00, valor, aliás, similar ao que cada um dos deputados do mensalão recebiam por um mês de votação com o governo.

O que falarei para os PIRRÁIAS DA UFPE no próximo sábado?

Que o dinheiro foi aprovado para compra do material, mas…

Pensando nos meninos, vou seguir a burocracia, não vou desistir, vou torcer para que o recurso seja liberado até dezembro de 2010, de modo que não sejamos impedidos de utilizar esses recursos para OS PIRRÁIAS DA UFPE tendo em vista o término do prazo para execução orçamentária em 2009.

Episódios como esse me fazem refletir porque alguns colegas na universidade se isolam numa “torre de marfim”, cuidando de suas carreiras e suas publicações.

Confesso, de vez em quando sinto essa vontade, me afastar do povo e compor essa fétida elite que historicamente aprofundou o abismo entre ricos e pobres no Brasil via EDUCAÇÃO.

Mas não farei isso, a vida é curta e não quero pensar só em mim,pois, já fui menino pobre, de rua, tenho compromisso com minha história, com meus alunos e com as pessoas que acreditaram em mim.

Sou homem de esquerda, sou docente da UFPE e quero dar minha contribuição, só isso. abraços.

Prof.

José Luis Simões Centro de Educação /UFPE