Deu no JB Online BRASÍLIA - O Ministério da Educação (MEC) divulgou nota oficial nesta quinta-feira, informando que as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcadas para este fim de semana, foram adiadas por motivos de segurança.

Segundo a nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) deve anunciar a nova data nos próximos dias, depois de reorganizar a logística da nova prova.

O Ministério da Educação já tomou providências junto ao Ministério da Justiça e à Polícia Federal no sentido de apurar eventuais responsabilidades criminais relativas ao vazamento da prova.

Os estudantes inscritos serão comunicados pelos Correios, por telefone celular e por meio eletrônico-digital sobre a confirmação da nova data e dos locais das provas.

O vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) levou o Ministério da Educação a cancelar, na madrugada desta quinta-feira, a prova, que seria aplicada no fim de semana para 4,1 milhões de candidatos em 1,8 mil cidades do país.

A decisão foi tomada pelo ministro Fernando Haddad após ter sido alertado pela reportagem do jornal O Estado de S.

Paulo sobre a quebra do sigilo do exame. - Há fortes indícios de que houve vazamento, 99% de chance - afirmou o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, por volta da 1h, por telefone.

Na tarde de quarta-feira, 30, o jornal foi procurado por um homem que disse, ao telefone, ter as duas provas que seriam aplicadas no sábado e no domingo.

Propôs entregá-las à reportagem em troca de R$ 500 mil. - Isto aqui é muito sério, derruba o ministério - afirmou o homem.

O Estado consultou rapidamente o material, para checar sua veracidade, sem se comprometer com a compra.

Haddad, que diz nunca ter tido acesso ao conteúdo da prova, confirmou o vazamento ao consultar técnicos do Inep, órgão do ministério responsável pelo Enem.

A comprovação da fraude se baseou em elementos repassados ao ministro pela reportagem, via telefone e e-mail.

As questões originais estavam guardadas em um cofre, que foi aberto ontem à noite para confirmar a informação.

No exame a que o Estado teve acesso, a prova de linguagens e códigos, que seria aplicada no domingo, tinha na questão número 1 uma tira da personagem de história em quadrinhos Mafalda.

Na folha seguinte, o exame reproduzia uma bandeira do Brasil com a área verde parcialmente suprimida, simbolizando o desmatamento.

A imagem lembra uma campanha publicitária famosa da organização não governamental SOS Mata Atlântica.

Embaixo dela, a prova tinha a seguinte frase: ‘Estão tirando o verde de nossa terra’.

Em outro trecho do exame, também no alto, à esquerda, os examinadores usaram no enunciado o poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, aquele que começa com os versos ‘Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá’.

As questões da bandeira e do poema foram confirmadas pelo MEC como originais.

Outro trecho literário usado no Enem tinha o verso de Carlos Drummond de Andrade: “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho”.

Mais adiante, a prova reproduzia um texto da revista Veja sobre o filme Touro Indomável, de Martin Scorsese.

Outro personagem usado no Enem era o gato Garfield.

O programa de mensagens instantâneas MSN é mencionado em uma das questões.

O encontro no qual o Estado viu trechos da prova aconteceu ontem à noite, na zona oeste de São Paulo.

O homem que telefonou para a redação estava acompanhado de outra pessoa.

Eles disseram ter recebido o material na segunda-feira, de um funcionário do Inep.

Afirmaram que o esquema de fraude tinha cinco pessoas. - Ninguém aqui é bandido, ninguém tem ficha na polícia, nós dois temos emprego - disse o homem.

Ele afirmou que recebeu o material “de Brasília, de gente do Inep, do MEC”.

Disse que viu na situação a oportunidade de ganhar dinheiro. - Não tenho motivação política - garabtiu.

Ele afirmou que procurou um advogado para orientá-lo. - Registramos em cartório cópias das provas - ressaltou.

Seu companheiro, mais incisivo, cobrou o tempo todo da reportagem uma posição sobre o pagamento dos R$ 500 mil. - Isto aqui é muito grande, eu não quero correr o risco de morrer por nada - afirmou.

Diante da negativa da reportagem, ele se impacientou. - A gente vende isto aqui até por mais dinheiro - disse, revelando a intenção de procurar emissoras de TV.