Da Agência Câmara Em audiência nesta quarta-feira da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência Urbana para apresentação do Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, o diretor de pesquisas do Instituto Sangari, Julio Jacobo Waiselfisz, cobrou das autoridades da segurança pública de todo o País a publicação de estatísticas exatas sobre a criminalidade.
Ele assinalou que, no Brasil, os dados do Ministério da Justiça, ou das secretarias de segurança pública estaduais, não quantificam nem tipificam com exatidão os casos de violência.
Waiselfisz destacou que as estatísticas sobre crime no País são “absolutamente pressionáveis” e que, sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo, elas têm mais camuflado do que revelado a realidade, principalmente em relação às causas das mortes, que muitas vezes aparecem como indeterminadas.
Ele afirmou também que muitas vezes as secretarias estaduais de segurança não têm dados exatos sobre a mortalidade por violência, e então é preciso usar informações do Ministério da Saúde.
Waiselfisz considerou provável o envolvimento de autoridades policiais e paramilitares em homicídios não tipificados com exatidão nas estatísticas.
Em sua avaliação, há “uma esquisita articulação entre as forças da segurança e a força da criminalidade”.
Com relação ainda à inexatidão dos dados, ele observou que, de 1996 a 1999, em Salvador, foi adotada uma prática extravagante. “Salvador exportou cadáveres, eles não apareciam na capital.
Em 1996, Salvador teve 900 homicídios.
Em 1997, 400, em 1998, 200.
Chegou a 90.
Que aconteceu?
Pegavam um cadáver, levavam para outro município.
Por quê?
Porque afetava o turismo.
Há interesses poderosos implicados”, ressaltou.
O pesquisador afirmou que a opinião pública e a mídia têm que exigir transparência da área de segurança pública.
O diretor de pesquisas do Instituto Sangari disse ainda que a mídia é hoje o melhor poder de polícia que o País tem, por denunciar e cobrar das autoridades a apuração dos crimes.
Extermínio da juventude Waiselfisz ressaltou que a violência no interior do País está crescendo mais do que nas grandes cidades, e que “a história da violência é a história do extermínio da juventude”.
Segundo ele, os países da América do Sul e do Caribe, seguidos pelos da África, são os que têm maiores índices de morte entre os jovens.
Ele destacou também que não é a pobreza necessariamente que explica a violência, pois a criminalidade está aumentando em setores de classe média, e apenas entre 8% e 10% dos homicídios são explicados pela questão econômica.
Rio de Janeiro O relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), concordou que o Brasil é carente de estudos científicos que permitam um retrato fiel do mapa da violência.
Ele aponta, por exemplo, que enquanto no Brasil inteiro há um percentual cada vez maior de identificação de causas, no Rio de Janeiro mais do que dobrou o índice de mortes com razões indeterminadas.
Pimenta cita que no Distrito Federal há 1,2% de mortes sem causa definida, e o Rio tem mais de 20%. “É preciso entender o que está acontecendo”, ressaltou.
No entanto, mesmo sem um mapa que retrate precisamente o perfil da violência, o deputado considera que investimentos em políticas que a combatam têm surtido efeitos, com diminuição da criminalidade.
Pimenta sustentou ainda que os dados trazidos pelo pesquisador Julio Waiselfisz mostram a necessidade de serem criadas políticas públicas visando à população jovem, de 14 a 25 anos, a maior vítima e autora dos crimes.