De Capa Dois/JC BRASÍLIA – Uma guerra silenciosa que opõe uma tropa de 60 parlamentares ao ministro da Saúde, José Temporão, paralisa há duas semanas a Hemobrás, primeira estatal criada no governo Lula, prevista para ser instalada em Goiana, PE.

Fundada para produzir remédios usados no tratamento de hemofílicos, a empresa está sem comando desde o dia 5, quando terminou o mandato do ex-presidente João Paulo Baccara.

Temporão tenta emplacar no cargo seu ex-assessor Romulo Maciel, mas uma frente liderada por PT e PMDB pressiona pela recondução de Baccara.

A briga envolve um orçamento de R$ 150 milhões para 2010 e arrisca atrasar a fabricação de hemoderivados no País.

O impasse na estatal do sangue se agravou na semana passada, quando também terminou o mandato do diretor-técnico Luiz de Melo Amorim Filho.

O único remanescente na cúpula da empresa, Augusto César de Carvalho, acumula interinamente as duas diretorias e a presidência.

Sexta-feira, ele convocou os 78 servidores para uma reunião e fez um apelo para que todos continuem trabalhando. “Todo mundo está preocupado em saber quem sai e quem fica.

Reuni funcionários para tentar tranquilizá-los, a empresa não pode parar”, contou.

A disputa nos bastidores começou em março, quando Baccara, médico hematologista e ligado ao PMDB mineiro, lembrou a Temporão que seu mandato terminaria em seis meses.

Pouco depois, começaram a circular rumores de que o ministro entregaria o cargo ao economista Rômulo Maciel, seu colega na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Em julho, Temporão disse a Baccara que seu mandato não seria renovado.

Para tentar se manter no cargo, ele foi à caça de apoio político.

Assessores organizaram manifesto por sua permanência e começaram a visitar gabinetes do Congresso.

O documento foi entregue a Temporão com as assinaturas de 60 parlamentares, entre eles o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apontado como rival do ministro na disputa pelo comando da Fundação Nacional de Saúde.

Outro cabo eleitoral de Baccara é o ex-prefeito do Recife João Paulo (PT).

Temporão não quis falar sobre o assunto e a assessoria do Ministério da Saúde informou que o ofício com a indicação de Maciel foi enviado à Casa Civil em 30 de agosto.

Esta semana, o economista foi exonerado às pressas da vice-presidência da Fiocruz, numa portaria publicada pela fundação no Diário Oficial da União.

Mas o ato teve que ser cancelado, porque Maciel ocupava um cargo comissionado alto e só poderia ser afastado com a assinatura da ministra Dilma Rousseff.