Por Manoel Medeiros Neto, de Política/JC Não faltaram avisos.

Depois de almoço em churrascaria, assinatura pela abertura de CPI que investigaria a gestão petista e retirada em bloco na hora de votação de projeto importante para a PCR, um grupo de 12 vereadores - dez novatos - oficializou ontem a criação de uma nova bancada parlamentar na Câmara do Recife.

Mesmo com o discurso de que permanecem compondo a base aliada, o fato é que a manobra pode complicar a gestão João da Costa (PT) na Câmara.

Caso decidam barrar a aprovação de projetos do Executivo, os vereadores “independentes” poderão se unir à oposição: os dois grupos somados representam 20 das 37 cadeiras da Casa. “A ação busca alinhar nossas conversas com a Prefeitura, ter um diálogo melhor.

Não rompemos com ninguém”, afirmou o novo líder de bancada, Aerto Luna (PRP).

Diferente das palavras brandas de Luna, os discursos de Gilvan Cavalcanti (PMN) e Maguari (PDT) dimensionam o impacto da ação como ameaça à governabilidade. “Vamos conversar com a oposição também”, disse Maguari. “Nossa atuação será de apoio, mas com restrição e distinção”, bradou Gilvan durante discurso em que fez críticas contundentes à atuação do líder do governo, Josenildo Sinésio (PT).

Na segunda (14), Sinésio agradeceu publicamente a ajuda da oposição para aprovar a reforma administrativa da PCR e citou a retirada do grupo governista que na ocasião decidiu não participar da votação. “Seu discurso foi cruel. (…) O que você fez aqui nos deu o impulso (à formação da bancada)”, completou Gilvan.

Sentado a poucos metros de Gilvan - o vereador do PMN pediu que Josenildo “prestasse atenção” à sua mensagem -, Josenildo Sinésio decidiu não rebater o vereador durante a reunião.

Questionado, o líder governista afirmou que o novo bloco “facilitará” seu trabalho. “Será menos trabalhoso porque só terei que conversar com um líder”, comentou.

O regimento interno da Câmara define que a partir da criação de um bloco parlamentar, os líderes e vice-líderes das siglas representadas na nova composição passam a não poder usufruir dos direitos relativos às lideranças.

SUSTO Ao contrário do discurso oficial de que “não aconteceu nada demais” da maior parte dos vereadores ligados ao prefeito João da Costa (PT), as movimentações e conversas do presidente da Câmara, Múcio Magalhães (PT), e de Luciano Siqueira (PCdoB) durante a sessão, ontem, demonstravam que, no mínimo, a novidade representava um “susto”. “Seria surpreendente se eles anunciassem que fariam parte da oposição”, minimizou Múcio.

Em seu blog, Siqueira afirmou que a ação significava uma “manobra tática de parte do nosso exército sem, entretanto, mudar de trincheira. (…) Não cabe procurar chifres em cabeça de cavalo”, finalizou.

O grupo anunciou ontem que tentará se reunir com o prefeito João da Costa nos próximos dias.

A partir de agora, a habilidade política de Costa, questionada por alguns, passará a ter maior importância para o andamento da administração.

Além do Plano Municipal de Cultura, também serão apreciados na Câmara, nas próximas semanas, dois projetos importantes do governo municipal: o Plano Plurianual (PPA) e projeto orçamentário para 2010.

O grupo também pode decidir se apoia o projeto que determina a criação da CPI do Lixo, proposição que deve ser votada no plenário até o final deste mês.