O “Blog do Planalto”, criado pela Presidência da República na segunda-feira (31/8), ganhou um clone no dia seguinte, uma página não oficial que mostra exatamente os textos da versão original.
A principal diferença é que a página não oficial permite comentários dos leitores sobre o conteúdo.
Em entrevista ao G1, a criadora do blog clonado, Daniela Silva, comentou o fato de a página do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não permitir comentários dos internautas.
Ela disse a ausência de espaço para os comentários “soou”, para a opinião pública, “como uma não abertura ao debate”. “Eu entendo que o fato de não ter comentário ali, num mundo consagrado [como o dos blogs], eu acho que ele é muito grave", disse.
Daniela afirma também que, em sua opinião, “quando um governo quer imprimir transparencia à ação governamental, você não pode ignorar canais”. (Depois da publicação desta reportagem, Daniela disse ao G1 que, ao criar seu blog, não teve o objetivo de que ele representasse uma crítica ao blog original.
Segundo ela, o blog foi criado para mostrar que é possível uma participação política na internet.
Ela disse também que o fato de a versão criada por ela permitir comentários de leitores se deve simplesmente a isso ser uma possibilidade tecnológica da ferramenta que escolheu.) A assessoria da Presidência da República informou que não tomará nenhuma iniciativa contra o clone do “Blog do Planalto”, por considerar que a internet é um território livre e que a cópia dos textos está dentro das regras estabelecidas.
O “Blog do Planalto” usa as licenças “Attribution” e “ShareAlike” de um sistema conhecido como Creative Commons - um regime de licenças de uso de conteúdo intelectual, no qual o autor abdica de alguns direitos de criação para permitir o uso e o compartilhamento do material pelo público.
No caso do “Blog do Planalto”, qualquer pessoa pode utilizar todo o conteúdo publicado no blog, desde que dê crédito ao autor original dos textos (como previsto na licença “Attribution”) e permita a redistribuição do material pelo mesmo modelo (“ShareAlike”).
Ação política A idéia do “clone” é iniciativa de Daniela, que é jornalista, e de Pedro Markun, consultor de internet.
Ambos criaram uma agência de comunicação política, a Esfera, há cerca de dois meses. “A empresa ainda é um embrião, estamos definindo a linha de trabalho.
Mas o objetivo é criar discussões sobre como usar as ferramentas tecnológicas para agir politicamente”, diz.
O clone do blog do presidente foi a primeira ação pública da Esfera.
Segundo a jornalista, a criação da página alternativa ainda não chegou ao objetivo principal, o de gerar discussões sobre os temas políticos. “Os comentários ainda estão muito relacionados ao fato da página oficial não poder deixar posts.
Mas acredito que chegaremos logo no próximo passo, de gerar discussões sobre os temas que são apresentados nos textos reproduzidos do blog original.” Segundo ela, a criação do clone durou apenas meia hora e custou “zero reais”.
A jornalista diz que, apenas visualmente, o clone tem algumas distinções, já que, segundo ela, não há especificação clara sobre a reprodução do layout na licença do “Blog do Planalto”.
Nos próximos dias 3 e 4 de outubro os idealizadores do clone pretendem organizar um encontro entre jornalistas, ativistas e desenvolvedores de ferramentas tecnológicas para discutir melhores formas de utilizar a web em discussões políticas. “Ainda estamos bolando como vamos divulgar esse evento”, diz.
Uma das possibilidades será usar o twitter para essa divulgação.
Foi dessa maneira que o blog clone ficou conhecido.
O endereço oficial do Blog do Planalto é https://blog.planalto.gov.br/.
O clone pode ser acessado pelo https://planalto.blog.br/.
Presidência da República Os assessores da Presidência informaram que a iniciativa de criação do clone não resultará em uma mudança de política de comunicação do Blog do Planalto.
Ou seja, a página oficial não será aberta para comentários.
O G1 perguntou à assessoria se o presidente Lula havia sido informado sobre a iniciativa popular, mas os assessores não deram resposta.
Questionados se havia o temor de que o clone fosse mais acessado do que a página oficial do governo por permitir comentários dos internautas, os assessores também disseram que não comentariam.