Por Isaltino Nascimento “Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados.
Nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão o que mais assusta”. (Nelson Mandela) Só a partir da Constituição de 1988 é que foi assegurado aos brasileiros o direito de manifestar livremente suas crenças religiosas.
Contudo, isso não significou o fim da intolerância contra os adeptos dos cultos de matriz africana, mas sim o começo de uma jornada para assegurar a liberdade de crença prevista na lei.
Assim, cotidianamente os afro-religiosos batalham para resgatar heranças e valores roubados durante o período da escravidão.
Em nome desta luta, solicitei à Assembléia Legislativa de Pernambuco a realização de audiência pública, na próxima quinta-feira (10), para discutir a intolerância religiosa.
Para a reunião foram convidados integrantes do movimento negro e praticantes dos cultos afrobrasileiros, que permanentemente estão mobilizados em busca da convivência pacífica e tolerante entre as religiões.
Também foram convocados representantes dos poderes constituídos, a fim de ampliar o debate.
Apesar de ainda não figurar na maioria dos livros que contam o processo de colonização brasileiro, a história dos africanos sequestrados de seus territórios para servirem de mão-de-obra escrava no Brasil é uma das chaves para entender a riqueza dos cultos afros.
Naquela época, a orientação oficial da igreja para justificar a escravidão era o argumento de que os negros não tinham alma e nem religião, portanto podiam ser desrespeitados.
Assim, o negro teve que abrir mão de sua religião, de seus costumes, de seus valores, de sua visão de mundo, de sua visão de sociedade e de Estado para enfrentar uma realidade de perseguição em terras desconhecidas.
Por conta disso, a reação dos escravos contra a intolerância religiosa foi uma estratégia de resistência que ficou conhecida como sincretismo religioso.
Ou seja, o negro escondeu a prática de seus valores religiosos por meio da religião do seu dominador, para desta forma poder cultuar seus orixás.
Dando origem a manifestações como o candomblé e a umbanda.
Esse atraso no conhecimento da história dos nossos ancestrais gerou a falta de compreensão sobre os significados das religiões de matriz africana e em conseqüência a intolerância em relação às pessoas que as praticam.
O que não pode ser aceito em um país laico como o Brasil, muito menos em pleno século XXI.
A busca dos afrodescendetes não é pela hegemonia de um ou outro credo, mas pela convivência harmônica entre as pessoas, inclusive as que não professam nenhuma fé.
PS: Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br), deputado estadual pelo PT e líder do governo na Assembleia Legislativa, escreve para o Blog todas às terças-feiras.