Da BBC Brasil O acordo militar entre o Brasil e a França que envolve a compra de cinco submarinos e 50 helicópteros, além das negociações para a aquisição de 36 aviões de combate, é um dos principais assuntos da mídia argentina nesta terça-feira. “Corrida armamentista.

Brasil também planeja comprar fragatas, corvetas e mísseis.

Assim, o Brasil teria a maior força naval da América Latina”, escreveu o jornal Clarín, na manchete da editoria de internacional.

O jornal La Nación publicou reportagem na mesma linha. “Corrida armamentista regional.

Uma nova compra reforça a aliança de Lula e Sarkozy.

Brasil negocia a fabricação de caças franceses para vendê-los na América Latina”.

Por sua vez, o Página 12 afirmou que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, voltou a Paris “de malas cheias”.

Uma referência ao anúncio de que o Brasil comprará aviões caças Rafale, da empresa francesa Dassault.

Na segunda-feira, dia da assinatura dos acordos em Brasília, o pacto militar também foi um dos principais assuntos das emissoras de rádio e de televisão do país. “Acordo militar histórico entre Brasil e França”, disse o canal de notícias C5N. “Brasil assina acordo que supera gastos da Venezuela e da Colômbia”, informou a TV América.

Em um artigo publicado nesta terça-feira no Clarín, o analista Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, diz que o acordo confirma que o Brasil é um país “com vocação de poder” e o “único da América do Sul que tem vocação de ator global”.

Procuradas pela BBC Brasil, autoridades do governo da presidente Cristina Kirchner preferiram não comentar o entendimento entre Brasil e França.

Também não foram realizados comentários públicos do governo sobre os acordos.

Impacto Analistas internacionais ouvidos pela BBC Brasil disseram que esta aproximação na área militar e estratégica entre Brasil e França terá “impacto significativo” na América do Sul.

O professor de Relações Internacionais da Universidade San Andrés, de Buenos Aires, Juan Gabriel Tokatlian, afirmou que o “acordo militar é o mais amplo na América do Sul nas últimas quatro décadas”. “Seu efeito e impacto serão significativos. É o fim do que alguma vez foi uma relação militar privilegiada entre Brasil e Estados Unidos.

Isso não significa nenhum tipo de tensão entre Brasília e Washington, mas a confirmação de que o Brasil procurará uma política crescente de autonomia militar”, diz Tokatlian.

Na opinião do analista, o Brasil deverá ser “muito responsável” com esse acordo, especialmente em relação à Argentina. “Os acordos de defesa e nucleares entre Argentina e Brasil, de fevereiro de 2008, de muita importância para o governo argentino, terão um teste com este compromisso francês-brasileiro”, diz Tokatlian.

Para ele, ou o Brasil deseja “legitimar” seu poder (militar) e contribuir para que seus vizinhos, especialmente a Argentina, se “sintam seguros” e “beneficiados com esse acordo”, ou o Brasil escolheu “o caminho da autonomia militar individual”.

Potência Para outro analista do setor, Jorge Battaglino, professor da Universidade Di Tella, apesar deste pacto superar as compras realizadas pela Venezuela e pela Colômbia no setor de armamentos, “não há motivos para preocupação”.

Segundo Battaglino, o equipamento militar brasileiro precisa de uma atualização e as aquisições do Brasil junto à França fazem parte “de um maior protagonismo global do Brasil e a crescente autodefinição do país como potência emergente”.

Battaglino afirmou que, em sua opinião, o Brasil está ampliando seu setor de defesa não por se sentir ameaçado por algum inimigo, mas para proteger seus recursos naturais e atualizar o papel de suas Forças Armadas.