Editorial do Jornal do Commercio deste domingo Poucas vezes um termo tão simples – agilizar – gerou tanto conflito como vem acontecendo na política brasileira desde quando a ex-secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira, declarou tê-lo ouvido da ministra Dilma Rousseff.

Esse é um capítulo da vida pública que antecipa a eleição de 2010 e só chegou à dimensão que tem exatamente por estar misturado com o processo eleitoral.

Não fosse isso, seria impensável que a simples expressão “agilizar” ocupasse tanto tempo de debate no Congresso quanto espaço nos meios de comunicação.

E por isso mesmo merece maior atenção, porque significa bem mais que a definição da Academia Brasileira de Letras: tornar mais ágil, ativo ou diligente.

Pelo critério político, seria um meio de engavetar as investigações em torno do filho do presidente do Senado.

Uma definição política, bem mais complicada, pois.

O fato é que, além das versões aí postas e que tomam tanto tempo da vida nacional, mais que lançar suspeição sobre uma ministra, com a enorme confusão gerada por um suposto encontro de natureza administrativa, as declarações da ex-secretária Lina Vieira atingiram a Receita Federal, e isso é muito ruim para o País.

Sempre que uma instituição nacional é atingida, seus estilhaços caem sobre todas as demais instituições.

Por isso é pertinente ir buscar em outros personagens, que não os diretamente envolvidos, alguma luz para se ter uma ideia mais precisa do que aconteceu com a Receita e de que forma isso pode prejudicar um instrumento fundamental para o funcionamento da República.

Poucos brasileiros estão mais bem aparelhados para falar da Receita Federal que o pernambucano Everardo Maciel.

Trata-se de um profissional sobre o qual nunca pesou qualquer dúvida quanto à capacidade técnica ou a postura de servidor público.

Rigoroso em suas avaliações – até porque, ao que se sabe, nunca padeceu do mal dos que têm “culpa em cartório” – o ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário da Receita Federal foi procurado para opinar sobre o que estava acontecendo na instituição que tão bem conhece e o que ele disse alterou substancialmente o que estava sendo mostrado como a expressão da verdade, as declarações da ex-secretária Lina Vieira.

Everardo Maciel desmontou alguns monumentos que tentaram construir em torno da ex-secretária, como a mudança no estilo de fiscalização com foco nas grandes empresas.

Com a objetividade acadêmica que tanto incomoda a linguagem política, o pernambucano de Pesqueira mostrou como não eram verdades algumas declarações de Lina Vieira, a quem atribuiu a desarticulação da fiscalização.

E tudo mais que cercou esse episódio rumoroso, como a saída de servidores em cargos de confiança, recebeu do ex-secretário um corte cirúrgico que certamente não deve ter animado os que gostariam de fazer da ex-secretária uma figura de palanque para o ano eleitoral que está se aproximando.

E isso, curiosamente, quando Everardo Maciel é visto como uma figura ligada à oposição, por ter dirigido a Receita no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Pelo contraditório, o episódio pode servir como depurador e como advertência para o risco de se transformar instituições públicas em palanques eleitorais.

Caberia, no caso, mais cautela dos nossos políticos, cada vez mais fascinados com as imagens geradas pelos sistemas de TV da Câmara e do Senado, com frequência flagrados em encenações que seriam pouco comuns, ou inexistentes, não fosse a tribuna uma espécie de espaço de propaganda eleitoral gratuita.

Neste caso, em especial, ficaram bem marcados os espaços reservados aos que são do governo e os que são contra ele, tendo como tema central a discussão em torno da expressão “agilizar”, de um encontro que para uns é indiscutível e para outros não existiu, lançando mais dúvidas ainda sobre a qualidade da classe política que temos.