Por João Valadares no PEbodycount São três soldados.
Faço questão de escrever o nome dos três.
Fábio Santos e Silva, José Ronaldo do Nascimento e Jorge Wendel Lins de Souza.
Encontrei os três, na manhã de domingo, na V-9, em Olinda.
Um exemplo.
A história é a seguinte.
O JC publicou uma matéria chamada À Flor da Pele. É um relato triste de três irmãos albinos nascidos numa família negra.
Vivem trancados em casa porque não têm protetor solar.
Também não têm óculos.
Ontem, estava na casa da mãe deles, Rosemere, 27 anos. “Ai meu deus.
João, o que é isso?
Tem polícia lá fora.
Meu deus.
O que foi?
Não gosto disso.
Não gosto.” As crianças também ficaram assustadas.
Já viram o tio ser assassinado.
Faz um mês.
Depois de acalmá-la, fomos até a porta.
Com o jornal na mão, o soldado Fábio Santos e Silva se apresentou. “Vim conhecer vocês.
A gente é responsável pelo policiamento aqui na área”.
Foi o cartão de visita.
Foram convidados a entrar.
Os soldados disseram que estavam abastecendo a viatura e viram a foto da família na capa do jornal, assinada por Alexandre Severo.
Acharam interessante e resolveram comprar.
Descobriram que era uma família da V-9.
Saíram do posto e foram procurar a casa.
Encontraram pouco tempo depois. “Ficamos sensibilizados com a comovente história.
Estamos aqui para conversar um pouco e ajudá-los.
Conhecemos muitos comerciantes e donos de farmácia.
Vamos entrar em contato com todos eles para ajudar a família.” Os três não estavam ali a mando de ninguém.
Não era uma cena produzida pela assessoria de imprensa oficial para apresentar o programa Polícia Amiga.
Eram apenas policiais, soldados, fazendo trabalho de polícia.
Só isso.
Aproximação solidária com a comunidade.
Afeto não faz mal a ninguém.
Essa é a polícia do bem.
Mas o menino mais novo, Kauan, 5 anos, não perdeu tempo.
Deu um cruzado no soldado. “Polícia é malvada.
A polícia mata.
Mata muito”.
O soldado Fábio, com o menino no braço, mostrou um lado da polícia que a periferia não conhece.
Uma polícia feita por gente de bem. “Kauan, a polícia é do bem.
Estamos aqui para protegê-los. É isso que a gente faz.” O menino continuou o diálogo com o policial.
Um tempo depois, estava perguntando sobre o fardamento do policial, sobre o colete à prova de bala. É isso.
Minutos depois, os três foram embora. “Vamos voltar com ajuda.” * a foto é de Rodrigo Lobo/JC Imagem