Por Edilson Silva “Vão-se os anéis, ficam os dedos”.

Certamente foi este o conselho mais ouvido pelo senador José Sarney, presidente do senado, em meio às incontáveis e intermináveis denúncias envolvendo seu nome nas últimas semanas.

Para a opinião pública, deveria o senador maranhense do Amapá ter escolhido o mesmo caminho de Renan, ACM, Jader e outros, que em situação menos complicada abdicaram dos cargos para manterem-se no planalto.

Mas Sarney negou-se a entregar os anéis.

Teria ele pouco apreço pelos dedos?

De forma alguma.

Apenas calculou bem e viu que os dedos não estavam em perigo.

Sendo assim, porque então entregar os anéis?

Diga ao povo que fico!

Em outras palavras: Sarney e os seus estão se lixando para a opinião pública.

Fator relevante e talvez determinante no jogo fisiológico em que se transformou a disputa presidencial de 2010, Sarney e sua trupe não se avexaram em cobrar da cúpula do PT e do governo Lula a parte que lhes cabia no latifúndio da falta de ética e de vergonha na cara que se transformou a política brasileira.

Sarney foi absolvido no Conselho de Ética do Senado, com os valorosos e determinantes votos de senadores do PT.

A permanência de Sarney a frente do Senado, nas condições em que isto se deu, revela um salto qualitativo na moral política do país, um salto para trás no imaginário popular, pois não conseguimos vislumbrar movimentos populares significativos exigindo sua cassação.

O fato de o governo Lula lutar bravamente pela sustentação de Sarney ajuda a compreender este fenômeno, dada sua relação e controle de parte robusta dos movimentos sociais.

Mas as explicações para a cara dura dos políticos em questão não podem e não devem ficar circunscritas a estes fatores.

A cristalização desta desconexão absoluta entre os anseios da sociedade e o ambiente freqüentado pelas vossas excelências do Congresso Nacional, revelada neste episódio da absolvição de Sarney, nos remete a admitir que o próprio processo eleitoral está completamente privatizado, entregue aos interesses de grupos privados que já detém o domínio da tecnologia da compra de mandatos.

Ou seja, o problema não está apenas em Sarney, Renan, Collor ou tantos outros.

O problema é também e principalmente o processo que gera e perpetua tais figuras nas instituições que deveriam representar os interesses da maioria da população.

Eles estão se lixando para a opinião pública por que sabem que a cada dia seus “anéis” estão mais distantes da fiscalização popular e do controle social, mesmo no período eleitoral.

Desprivatizar e democratizar a política são medidas inescapáveis na luta pela transição para outra realidade.

Acabar definitivamente com o financiamento privado de campanhas eleitorais e garantir a participação direta da população na definição dos grandes temas do país, com referendos e plebiscitos, assim como com projetos de iniciativa popular, são parte do arsenal que a sociedade deve lançar mão nesta batalha.

PS: Edilson é presidente do PSOL-PE e escreve para o Blog de Jamildo.