Por Terezinha Nunes Deputada estadual (PSDB) Num país onde o presidente da república fala pelos cotovelos - diz asneiras de repercussão nacional ou até internacional - e continua com alta popularidade, não é de causar espanto mas gera, sem dúvida, preocupação, a postura do ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo, de viver se pronunciando sobre tudo e todos, independente de estarem ou não para ser julgados pela mais alta corte nacional. É rara a semana em que o ministro não concede alguma entrevista, inclusive em saguões de aeroportos, para externar o que pensa.
Suas observações acabam sendo manchetes na imprensa, causam danos, e ficam por isso mesmo.
Claro que o presidente do Supremo tem que ser tratado com respeito e que tudo que ele fala vai ecoar aos olhos e ouvidos da nação, mas chegou o momento dele próprio fazer um exame de consciência e compreender que sua postura tem causado mais danos do que benefícios.
Inclusive do ponto de vista educacional já que se espera de uma pessoa de tão grande relevância em um país de tantos iletrados, a preocupação com o que está sendo passado adiante, a partir das comunicações que faz.
Com Gilmar Mendes, porém, a impressão que fica é de um total descompromisso com essas questões.
E aí os problemas se avolumam e acabam causando danos à imagem do próprio STF que deveria ser mantido, como a Suprema Corte de qualquer país que se preze, como reserva moral da nação, falando o absolutamente necessário no momento juridicamente conveniente.
Como se não bastassem as encrencas em que se meteu nas polêmicas com o delegado Protógenes e o banqueiro Daniel Dantas, sem falar no bate-boca com o ministro Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes continua sem se conter.
Há poucos dias vociferou na direção do Ministério Público, acusando-o de agir politicamente.
Ora, o Ministério Público é a maior conquista nacional dos anos recentes e pode até cometer erros mas a forma de explicitar isso foi inadequada e, o pior, sem qualquer prova do que estava falando, o ministro dá aimpressão de agir como biruta de aeroporto, ao sabor dos ventos, querendo desgastar ainda mais as nossas já fragilizadas instituições.
Por essas e outras é que ele está tendo que passar por agruras como a que se envolveu em Recife na semana passada, tendo que mudar o endereço de uma reunião com os desembargadores do TRF-5 para fugir da manifestação de um grupo de jornalistas e estudantes de jornalismo, inconformados com sua decisão, acompanhada pelos demais ministros, de acabar com a exigência do diploma para os profissionais da comunicação.
A indignação dos jornalistas não foi somente pela medida extrema que fez o Brasil retroceder a um nível jamais visto, cassando uma profissão consagrada e reconhecida, mas à maneira como foram tratados pelo próprio Gilmar que, num rasgo de infelicidade e prepotência, disse que qualquer pessoa, inclusive os que trabalham na cozinha, podiam ser jornalistas.
Reduziu a imprensa a um amontoado de mestres-cuca.
Por maior respeito que estes profissionais mereçam, a comparação foi inadequada.
Da forma como se comporta, o ministro Gilmar Mendes pode qualquer dia vir a sofrer uma repreensão como a que deixou quase sem fala o presidente da Venezuela Hugo Chávez que, de tanto dizer bobagens, ouviu do rei da Espanha, na Conferência Ibero-Americana de 2007, uma frase que ecoou mundo afora: por qué no te callas?.