Editorial do JC desta terça A poluição visual deixada pelas campanhas eleitorais em muros pintados ou pichados pelas cidades, vilarejos, estradas corresponde, em boa parte, à sujeira de prontuários policiais e judiciais de alguns políticos.
Deterioradas pelo tempo, mesmo algumas que obedeceram a alguma idéia de estética se tornam algo desagradável de ver e ainda lembram aos eleitores enganados promessas não cumpridas.
Embora a legislação determine que essas pinturas e também cartazes colados por toda parte, e outros tipos de comunicação sejam retirados até 30 dias após o pleito, partidos e candidatos não cumprem a lei e, como não são aplicadas punições adequadas, fica tudo por isso mesmo.
E tudo recomeça nas eleições seguintes.
Aqui no Recife, veem-se ainda pintados não somente nomes que disputaram eleições mais recentes, como Eduardo Campos, Mendonça Filho, João da Costa, Cadoca, mas até de políticos mais antigos (e até já falecidos), que disputaram há mais tempo, como Miguel Arraes.
Além disso, nos meses finais das campanhas eleitorais a cidade se enche de panfletos e santinhos distribuídos pelos candidatos, que, mesmo quando lidos, são logo jogados fora, uma vez que a nossa população ainda não adquiriu o hábito de não botar papel e outros tipos de lixo na rua.
A maioria nem lê as propagandas, tal o desinteresse, e até desprezo, pelos políticos e suas arengas.
E logo elas são descartadas para aumentar o lixo colocado em lugar indevido.
E, já que estamos falando de poluição, forçoso é abordar também o conteúdo da propaganda e o aspecto ético dos embates entre candidatos.
Aí também há muita sujeira, o que em nada contribui para elevar o nível das campanhas e fazer da política entre nós uma atividade mais nobre e respeitável.
Estabeleceu-se o conceito de que o candidato a um cargo político é um produto como outro qualquer, a ser vendido ao consumidor-eleitor independentemente de suas qualidades reais. É o que chamam de marketing político.
E sabemos que, apesar de legislação para o setor e órgão autorregulador, ainda há muita propaganda enganosa.
Em geral, os chamados marqueteiros (substantivo derivado do inglês marketing) não se preocupam em apresentar ao eleitorado as qualificações pessoais, éticas, administrativas, políticas dos candidatos que os contratam.
A preocupação geral é iludir o eleitor com muito ruído e palavrório para não lhe dar oportunidade de pensar, raciocinar, comparar, e, paralelamente, atacar e desqualificar os concorrentes, não distinguindo adversário com quem debater de inimigo a destruir.
Usam-se fartamente factóides, pessoas pagas para dizer isso ou aquilo, mentiras mesmo. É claro que assim não se pode fazer uma escolha embasada e consciente, que leve em conta a qualificação do pleiteante a um cargo e a ausência, em seu currículo não oficial, da prática de crimes comuns e de investidas contra o interesse público.
Outro aspecto negativo nessa maneira de fazer política é que vive-se num clima permanente de campanha eleitoral, que prejudica muito a administração pública.
Os palanques nunca se desarmam.
Talvez por esse motivo não se cumpra a legislação que manda retirar dos muros as propagandas da eleição finda.
Tudo o que o candidato eleito faz é propagandeado como errado pelos adversários.
Nas assembleias, câmaras, no Congresso, a situação tem de fazer contorcionismos e concessões para poder aprovar uma lei.
Daí surgem os “mensalões”, a multiplicação de vantagens e mordomias.
Em vez de governar, administrar bem, legislar bem, fiscalizar o Poder Executivo (conforme o cargo para o qual se foi eleito), o político está sempre de olho nas próximas eleições e agindo como se estivesse em campanha.
Vamos cumprir as leis, as normas, por fim à poluição visual, ética e funcional.
E, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade da propaganda política, incluindo o guia eleitoral cedido a todos os partidos.
Vamos aproveitar o clima criado pelos avanços econômicos e sociais para nos aproximar dos países mais desenvolvidos também no modo de fazer política.