O presidente do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), reafirmou em entrevista ao jornal O Globo de domingo (23), a respeito dos últimos acontecimentos envolvendo o Senado, que o partido fez o que era certo no Conselho de Ética. “O PT não trata a ética como uma questão isolada da política”, afirmou Berzoini, que acusou a oposição de tentar estabelecer no episódio um conflito político entre o PT e o PMDB.

Leia a íntegra da entrevista: O Globo: Qual o balanço da crise no Senado e no PT?

Ricardo Berzoini: Foi um episódio difícil porque a bancada no Senado estava com uma visão muito focada no fato em si, desconhecendo a importância de analisar essa questão em um aspecto mais amplo, não verificando que a oposição vinha numa tática de tentar estabelecer um conflito político entre o PT e o PMDB no Senado.

Até acreditando que o o Conselho de Ética teria condição de fazer um debate sobre essa questão de maneira isenta.

Na verdade, o Conselho de Ética é um foro político e a votação demonstrou isso.O PT fez o certo no Conselho de Ética.

O PT não errou.

O Globo: Mas o PT não acabou caindo na armadilha, já que, certamente, entrou em conflito com o eleitorado que defende a ética na política?

Ricardo Berzoini: O PT defende a ética mas não trata a ética como se fosse uma questão isolada da política.

Defendemos investigações no Ministério Público, na Polícia Federal, no Judiciário, que são instrumentos institucionais.Quando se concentra a investigação no Parlamento é porque se quer fazer disputa política.Quando se ignora irregularidades graves cometidas por outros senadores e se concentra só no presidente da Casa é porque se quer fazer disputa política.

O Globo Como o PT vai explicar isso ao eleitor?

Ricardo Berzoini: É óbvio que é um debate que temos que fazer com a sociedade.

Não é um debate que está feito, que está tranquilo.

Ou a gente enfrenta ou a gente se acovarda.

E na política quem se esconde normalmente perde.

Quem enfrenta tem chance de ganhar.

O Globo Então a questão é ganhar?

Ricardo Berzoini: Não.

A questão é não cair em armadilha e facilitar o trabalho da oposição.

Não reconheço no DEM, que está na 1ª Secretaria (da Mesa do Senado) há 14 anos e diz que não sabe dos atos secretos, autoridade política para fazer essa investigação.Não reconheço no PSDB, que nas CPIs do Proer e do Banespa agiu para não ter investigação, autoridade política.

Reconheço no Ministério Público.

O Globo: Muita gente diz que o PT trocou a ética pelo pragmatismo.

Ricardo Berzoini: Eu seria favorável a uma CPI para apurar o conjunto da obra no Senado.

Por que a oposição não aceita?

Porque, com uma CPI, certamente não conseguiriam pôr o foco só no presidente do Senado.Os atos secretos envolvem mais de 40 senadores dos mais variados partidos.

O PT não abandonou a ética.

Mas o PT, no governo, precisa ter clareza de qual é o espaço para a defesa da ética.

Certamente, não é no Conselho de Ética do Senado.

A simplificação só interessa a quem não quer investigar em profundidade.

O PT não pode ser ingênuo e entrar nesse joguete.