Felipe Lima Da editoria de Economia do Jornal do Commercio A senhora tirou o vestido roxo tomara-que-caia do armário.

Se maquiou e foi à praça.

O seu companheiro passou a calça social e alvejou a camisa branca.

Ensacou-a direitinho e foi também.

Os alunos do 3º ano da escola que fica ao lado da Prefeitura foram liberados. “Só alguns”, explicou melhor uma das estudantes.

Pais e mães com seus filhos no colo esperavam sob o sol das 11 horas da última sexta-feira, dia 21, o palanque montado em frente à sede do governo municipal de Timbaúba se encher.

Era dia de festa e de muita, muita política.

Apenas uma pequena parte dele foi reservada ao reerguimento econômico de uma cidade.

Depois de assistir ao polo calçadista ruir, a cidade de Timbaúba recebeu na última semana o anúncio de um empreendimento de R$ 57 milhões do grupo paulista Unimetal.

A fábrica de fios de poliéster vai produzir 17 mil toneladas por ano e empregar 300 pessoas diretamente.

Não tinha como evitar, o dia era de festa.

Na marquise das casas próximas ao palanque, as pessoas colocaram cadeiras para ver de camarote o governador Eduardo Campos e o diretor-presidente da empresa, Cristophet Yung, assinarem o protocolo de intenções da fábrica.

O motorista de ônibus parou no canto da padaria e também ficou a observar, enquanto um garoto engraxava seus sapatos.

Três bandas estudantis trataram de animar a festa.

Tocando uma mistura de marchinha com Olodum, de sorrisos bem abertos, nem pareciam estar suando bicas ao bater os pratos e girar as baquetas dos tambores.

Fogos de artifício deixaram o cheiro de pólvora no ar.

O vendedor de churros não economizava no óleo e faturava alto.

O vendedor de picolé e o de “cremosinho” também.

Quando o calor e o abafado começaram a castigar, as senhoras abriram suas sombrinhas, cada uma mais colorida que a outra.

Quando os discursos começaram, bateram palmas em cada parada estratégica que os oradores davam.

Se não se animavam, uma senhora repreendia: “Vamo, anima minha gente!”.

O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Fernando Bezerra Coelho, ficou vermelho de tanto bradar que a fábrica “era fruto da luta política iniciada em 2006” de “Lula lá e Eduardo cá”.

A deputada federal Ana Arraes era a mais celebrada.

Lembrou o pai, o ex-governador Miguel Arraes, e arrancou mais palmas.

No final ganhou um beijo na testa do filho, o atual governador de Pernambuco.

O presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchôa, também estava lá.

Bom filho de Timbaúba que é, não poderia deixar de estar.

E mandou o recado: “aqui não tem conversa fiada e nem mentira nesse palanque”.

E haja palmas.

Lembrou ainda a nova cadeia pública da cidade, que mesmo reformada ainda não começou a funcionar porque não tem policiais (na verdade essa última parte ele se esqueceu de dizer).

Foi quando chegou a vez do prefeito Marinaldo Rosendo.

Chamou a deputada Ana Arraes de “nossa mãe”.

E tome mais palmas.

Ficou emocionado.

Parou de falar.

Tirou o lenço do bolso e enxugou as lágrimas.

Tão rápido que não deu tempo de vê-las. “Esse é o maior presente da história”. “Estamos começando o crescimento da cidade”.

Tome palmas.

Falou o governador também.

Antes, revisou rapidamente seus cartões-lembrete. “Ouvi testemunhos de mães de família aqui na feira de Timbaúba de que era hora de barrar o processo de perde perde de Timbaúba”. “O presidente Lula foi zeloso nas atitudes que tinha de tomar no combate à crise”.

Listou o que fez em educação, o que fez em segurança.

Prometeu resolver o problema da cadeia pública.

Palmas, palmas, palmas.

E a fábrica?

Começará a ser construída, se aprovado o financiamento no Banco do Nordeste, em outubro.

Mas Danilo, um jovem de 16 anos que abordou os repórteres que fizeram a cobertura do evento, retrata um pouco do que acontece quando a política passa por cima da economia.

Aluno do 1º ano do Ensino Médio, conta com gosto que ganhou R$ 800 de candidatos a vereador nas últimas eleições só apresentando o seu título de eleitor e prometendo votar neles se esses dessem uma “ajudinha”.

Quando questionado se não era melhor estudar e conseguir um emprego na fábrica que estava chegando, fez silêncio.

Desconversou apontando para televisão que mostrava um show da banda Calcinha Preta.