MERCADANTE SÓ SURPREENDE QUEM NÃO CONHECE MERCADANTE Reinaldo Azevedo, em seu blog O que vocês querem que eu diga?
Vocês viram aqui Tio Rei levar a sério a palavra de Aloizio Mercadante (PT-SP)?
Eu lia os meus colegas — profissionais sérios, competentes, trabalhadores — a anunciar a renúncia certa de Mercadante, questão de tempo apenas etc, e eu pensava: “Não vai acontecer.
O primeiro compromisso de Mercadante é com a sua vaidade.
E isso, curiosamente, pode custar até mesmo a humilhação”. É que não sou repórter, todos sabem.
Admiro os que são.
Mas eu não sou.
Eu gosto é de Freud.
A renúncia de Mercadante era tão séria quanto o seu doutorado.
As palavras com que anunciou a renúncia da renúncia são patéticas: “Não tenho condições de dizer não [ao pedido de Lula].
Não tenho, como não tive antes”, afirmou ele, referindo-se à carta de Lula.
Entendo!
Mas pode dizer um “não” à própria palavra.
Mercadante vive negando anunciadas convicções por causa desta, como chamarei?, compulsão para servir.
Este valente achava que havia razões para cassar Renan Calheiros.
Dizia isso.
Sabem o que ele fez?
Absteve-se e comandou a abstenção.
E Renan está aí, humilhando Mercadante.
Convenham: a diferença entre ambos é de palavra, não é mesmo?
Escrevi à época: “Como sempre, quando o caso é Mercadante, o bigode precede a coragem.
A ser assim, admite-se, então, que um senador que não tem condições de permanecer na Casa é peça importante do poder petista — e isso define o poder petista, certo?” Também naquele caso, o que ele tentou?
Manter Renan, mas preservando a sua “independência” (risos).
Foi um articulador incansável a favor do senador de Alagoas.
Não é a primeira vez que Mercadante põe o bigode à frente da coragem.
Há coisa de três anos, Sarney apresentou um projeto que criava uma zona franca que abrangia praticamente metade do país.
O texto transformava o Brasil num Paraguai de dimensões gigantescas.
O que fez o corajoso petista?
Reconheceu o malefício do projeto, mas votou a favor porque disse que não podia se colocar contra uma proposição de um ex-presidente da República… Mercadante, naquela época, votou contra São Paulo, que representa no Senado, mas não contra Sarney… No episódio dos aloprados do dossiê, vocês se lembram, o seu braço direito, Hamilton Lacerda, foi flagrado com a mala de dinheiro.
Mercadante, claro, afirmou que não sabia de nada, e o outro arcou sozinho com o peso da suspeita - só da suspeita, já que o caso, até agora, é um daqueles crimes de petistas para os quais não há criminosos.
Que os meus colegas repórteres aprendam a pôr a palavra de Mercadante em perspectiva.