Da Editoria de Cidades do Jornal do Commercio Publicado em 16.08.2009 Depois de 24 anos de um comando centralizador, a Arquidiocese de Olinda e Recife volta a ser administrada por um religioso de linha mais participativa, que gosta de evangelizar com o povo, ouvir opiniões antes de tomar decisões e não se incomoda em lidar com pessoas de ideias divergentes.

Dom Antônio Fernando Saburido, 62 anos, monge beneditino, toma posse às 16h de hoje com o desafio de dar unidade à igreja que se fragmentou após a aposentadoria de dom Helder Camara, afastando-se de movimentos sociais, e, ao mesmo tempo, ganhou novas características, como a ascensão de grupos de oração.

Embora seja esperança de retomada de uma igreja mais preocupada com problemas sociais que a gestão de dom José Cardoso Sobrinho, o novo arcebispo não tem a pretensão de ser um Helder Camara. “Não esperem que dom Fernando seja um dom Helder.

Ele vem para somar e catalizar, mas as mudanças ocorrem a partir de Deus.

Não joguem no arcebispo uma responsabilidade que é de todos, não só dele”, analisa o abade do Mosteiro de São Bento, dom Felipe Silva, superior da ordem religiosa de Saburido.

Ele acredita que um novo tempo será iniciado na igreja católica de Pernambuco e que a formação no espírito de São Bento ajudará dom Fernando na missão de conciliar os sentimentos da instituição e do povo.

Os monges se dedicam à oração, a ouvir as pessoas, ao silêncio e ao zelo pela Igreja e o evangelho.

Pela primeira vez no Estado um representante da ordem assume a diocese metropolitana.

Dom Fernando é o oitavo arcebispo desde 1901 e irá comandar 102 paróquias, administrar ainda 82 imóveis e supervisionar irmandades, como a Santa Casa de Misericórdia, comunidades e associações.

Padre desde 1983, organizou paróquias em Olinda e participou da gestão de dom José, como bispo auxiliar entre 2000 e 2005, época em que tentou ativar o movimento pastoral e atrair sacerdotes que tinham se afastado das reuniões regulares com a cúpula da igreja.

Tem experiência administrativa anterior, no Mosteiro e Colégio de São Bento.

PROGRAMAÇÃO E é no Mosteiro de São Bento, sua antiga residência, que dom Antônio Fernando Saburido receberá a imprensa na manhã de hoje.

Um quarto de hóspede foi arrumado para acolhê-lo na noite de ontem, quando deve ter chegado do Ceará, depois de um retiro espiritual em Guaramiranga, região serrana do Estado.

Vai levantar às 5h para orar, tomará café com os outros 20 monges que moram na casa e às 10h30 falará aos jornalistas. “Naturalmente teremos uma atenção especial a ele, mas tudo será muito simples, como de rotina”, explica dom Felipe Silva.

Depois do almoço, ele acompanhará dom Fernando até a Igreja Madre de Deus.

O presidente da ordem Beneditina no Brasil, dom Emanuel Amaral, abade do Mosteiro de São Bento em Salvador, e o abade do Rio de Janeiro, dom Roberto Lopes, foram convidados para a posse do arcebispo de Olinda e Recife.

A solenidade terá início às 16h, na Igreja da Madre de Deus, no Bairro do Recife.

Dom Fernando será recepcionado por dom José Cardoso e o núncio apostólico, dom Lorenzo Baldisseri, representante do papa Bento XVI no Brasil.

As cores oficiais do Vaticano, amarelo e branco, estarão na ornamentação da igreja e no palco onde depois será celebrada a missa campal.

Os religiosos usarão túnicas brancas.

A missa, com previsão de começar depois das 17h e avançar até as 20h, será concelebrada por bispos e padres.

Os fiéis que chegarem primeiro poderão ocupar cadeiras que serão colocadas no local.

Mas o público também acompanhará a posse e a missa por telões.

Em todas as paróquias dos 19 municípios da área de abrangência da arquidiocese as missas da tarde e noite foram suspensas, para possibilitar a participação dos fiéis na primeira celebração do novo arcebispo.

Caravanas de Sobral, cidade onde dom Fernando foi bispo recente, e de Juçaral (Cabo de Santo Agostinho), onde ele nasceu, também são esperadas.

A missa, voltada para a assunção (subida ao céu) de Nossa Senhora, terá a participação de um coral formado por 12 vozes, metade do Seminário de Olinda, metade do Mosteiro de São Bento.

Músicas pastorais e canto gregoriano em homenagem à mãe de Jesus serão apresentados.