De Cidades / JC Em obras há dois anos e meio, a Avenida Norte, um dos corredores viários mais importantes do Recife, nunca esteve tão degradada.
A requalificação da via continua em andamento no trecho que corta o bairro de Santo Amaro, área central da capital, mas os trabalhos lentos contribuem para o desgaste do que foi construído até agora.
A população que trabalha ou mora no entorno da obra não suporta a demora, agravada pelos impasses com a desapropriação dos imóveis.
Os flagrantes de descaso com o que já existe da ciclovia, calçadas e canteiro central estão por toda parte.
Ontem, a reportagem identificou pelo menos seis veículos estacionados sobre os trechos prontos da pista exclusiva para ciclistas.
Até uma Kombi do governo do Estado parou no local, como se fosse área de estacionamento.
Carroças de recicladores podiam ser vistas em vários pontos, assim como metralhas e lixo.
A requalificação da Avenida Norte começou no início de 2007 e compreende 1,5 quilômetro entre a Rua da Aurora e o viaduto sobre a Avenida Agamenon Magalhães.
A intervenção está com atraso de um ano e só deverá ser concluída em dezembro. “Essa obra não tem mais fim.
A gente sofre todo dia, ninguém aguenta mais a poeira, a lama e o barulho”, reclamou Tatiane Guedes, que trabalha passando jogo às margens da via. “Para mim, a prefeitura deveria resolver todas as desapropriações antes de começar a obra.
Mas não, faz exatamente o contrário e termina ficando essa confusão.
No meu caso, não concordei com o valor que queriam pagar pelo recuo do meu imóvel e a briga está na Justiça”, relatou o comerciante Vladimir Maciel, proprietário de uma loja de móveis usados que permanece no meio da ciclovia.
Entre as pessoas que vivem às margens da Avenida Norte, circula a informação de que a prefeitura estaria sem dinheiro para dar continuidade ao pagamento de indenizações. “Eu acertei a negociação sobre a desapropriação da minha loja, desde janeiro, mas até agora não recebi o valor.
Infelizmente.
Enquanto isso, meu movimento caiu 80% e ainda tenho que bancar as despesas com IPTU, funcionamento da loja e funcionários.
Estou esperando esse dinheiro para comprar outro imóvel”, afirmou o comerciante Adelmo Vale.
A Prefeitura do Recife explicou, ontem, que o atraso na obra decorre da dificuldade de comprovação da titularidade de muitos imóveis.
A assessora-executiva de Planejamento, Ana Cláudia Mota, garantiu que não há falta de recursos. “O problema é que muitas pessoas não conseguiram comprovar a propriedade dos imóveis.
E, sem a documentação correta, a desapropriação não pode ser realizada.
Temos que entrar na Justiça, mesmo quando há acordo”, explicou.
Segundo a assessora-executiva, 76% das questões envolvendo desapropriação de imóveis já foram resolvidas.
O restante, 24%, está na Justiça ou em negociação. “Mas isso não nos impede de continuar os trabalhos onde é possível.
Por enquanto, mantemos a previsão de concluir os trabalhos em dezembro.” Ana Cláudia Mota disse, ainda, que a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) foi acionada para intensificar a fiscalização no trecho da obra, evitando abuso por parte dos motoristas.