Por Sérgio Montenegro Filho, no JC deste domingo “Povo de Sucupira! É com a alma lavada e enxaguada…” Quem não lembra o bordão com o qual o prefeito Odorico Paraguaçu costumava abrir seus antológicos discursos na novela “O Bem Amado”, de Dias Gomes?
Político canastrão, fisiológico e corrupto – verdadeiro estereótipo dos coronéis nordestinos –, Odorico, porém, pensava já ter visto de tudo.
Mas nos programas da “Rádio Sucupira”, veiculados pela JC/CBN às sextas pela manhã, até ele se assusta com a política brasileira do século 21.
Há mais de um mês, a crise no Senado tem dado o mote dos programas.
Como o que foi veiculado no dia 3 de julho passado, quando Odorico tenta salvar da cassação o presidente da Câmara de Sucupira, seu aliado, acusado de corrupção. “Ele precisa ser absolvido, para garantir a segurança e a paz neste município!”, brada o prefeito.
Suas frases são intercaladas com as do presidente Lula (PT) em defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “Não podemos estabelecer uma morte precoce.
Não posso entender que cada pessoa que tenha uma denúncia tenha que renunciar ao seu cargo.” Odorico reforça: “É muita coisa pra um homem só.
Acho que Deus se passou para a oposição”.
Em outro episódio, no dia 10 de julho, o prefeito pretende construir um memorial da sua gestão utilizando dinheiro da “Petrosucupira”.
Uma alusão ao repasse de recursos da Petrobras à Fundação José Sarney, no Maranhão.
Acusado pela oposição de corrupção e favorecimento, Odorico dispara: “Isso é calunismo.
Eles não podem provar.
Não assinei nenhum recibo.
E querem que eu compareça à comissão de inquérito!
Isso é um desaforismo!” Em seguida, a declaração de Sarney à imprensa: “Não tenho nenhuma responsabilidade sobre a fundação.
Sei que ela teve projeto aprovado pela Lei Rouanet para receber patrocínio da Petrobras, como muitos dos memoriais dos presidentes da República”.
No episódio seguinte, Odorico encontra o “homem perfeito” para comandar o Conselho de Ética da Câmara de Vereadores, que vai julgar um pedido de cassação do seu mandato.
E comunica aos aliados. “Eu já tenho uma pessoa de confiança.
Ele vai aparecer aí (na Câmara) munido de um cartão meu.
Saudações sucupiranas e democráticas.” Em seguida, vêm as declarações do senador Paulo Duque (PMDB-RS), da tropa de choque de Sarney, após ser indicado para presidir o Conselho de Ética do Senado. “A opinião pública é muito volúvel, ela flutua.” A aliança entre Lula e o ex-presidente Fernando Collor, hoje aliados no Senado, é outro alvo da “Rádio Sucupira”.
Gravações da campanha de 1989, quando os dois trocavam agressões, são intercaladas com uma pérola de Odorico Paraguaçu: “Hoje é dia de esquecer os desaforismos e os caluniamentos, passar uma borracha nos pratrasmentes e partir para os prafrentementes, de coração limpo, alma lavada e enxaguada.
Apertar a mão do seu inimigo de ontem, que vai ser seu amigo de amanhã.
E viva o Amor!
E viva a Paz!
E viva Sucupira!”.