Da Folha de S.Paulo deste domingo A ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira diz que, em um encontro a sós no final do ano passado, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) pediu a ela que a investigação realizada pelo órgão nas empresas da família Sarney fosse concluída rapidamente.
A Folha obteve há três semanas a informação sobre o encontro e o pedido.
Procurada pela reportagem, a ex-secretária confirmou.
Ressaltou que não poderia dar detalhes sobre a auditoria, em respeito ao sigilo fiscal previsto no Código Tributário Nacional.
Mas aceitou contar como teria sido a conversa com a ministra e pré-candidata à Presidência da República.
A assessoria de Dilma diz que o encontro nunca ocorreu. “Falamos sobre amenidades e, então, ela me perguntou se eu podia agilizar a fiscalização do filho do Sarney.” A ex-secretária disse que entendeu como um recado “para encerrar” a investigação, o que se recusou a fazer. “Fui embora e não dei retorno.
Acho que eles não queriam problema com o Sarney.” Segundo Lina, o pedido de Dilma ocorreu cerca de dois meses após o fisco ter recebido ordem judicial para devassar as empresas da família Sarney.
Auditores da Receita ouvidos pela Folha dizem que uma fiscalização como essa pode levar anos.
Encerrá-la abruptamente seria o mesmo que “aliviar” para os alvos da investigação.
Além do sigilo fiscal, inerente a todas as ações da Receita, a auditoria sobre o clã Sarney estava sob segredo de Justiça.
No final do ano, o Palácio do Planalto cuidava das articulações para a eleição à Presidência do Senado.
Em público, Sarney negava a intenção de concorrer, embora se movesse nos bastidores.
A candidatura foi anunciada em janeiro e, apoiada por Lula, acabou vitoriosa.
Sarney enfrenta hoje uma série de acusações de quebra de decoro por ter usado a máquina do Congresso em favor de parentes e aliados.
Continua no cargo com o apoio de Lula.
A Folha contatou a Casa Civil quatro vezes para saber se a ministra Dilma confirmava o teor da conversa com Lina Vieira.
Sua assessoria de imprensa, em conversas telefônicas e por e-mail, declarou que ela “jamais pediu qualquer coisa desse tipo à secretária da Receita” e, mais, que a ministra “não se encontrou com ela”. “Não houve a alegada reunião”, escreveu a assessoria.
Lina, por sua vez, diz se lembrar de detalhes: do cafezinho que tomou na antessala e do xale que Dilma vestia.
Conforme a Folha publicou no dia 25 de julho, a recusa de Lina em atender pedidos de políticos foi um dos fatores que levaram à sua demissão no dia 9.
O motivo mais divulgado foi a divergência em público sobre a mudança de regime tributário feita pela Petrobras.
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