Por Sérgio Montenegro Filho, no JC deste domingo Os episódios de verdadeiro humor negro produzidos diariamente pela classe política brasileira transformam em piadas de salão fatos graves ocorridos há duas ou três décadas.
O governo Lula e a crise no Senado são, hoje, os principais temas de inspiração para colunistas, chargistas e repórteres criativos.
Temas que não poderiam ficar de fora do bem-humorado cardápio da fictícia “Rádio Sucupira”.
Há quase cinco anos no ar, o programa criado pelo âncora do Jornal da CBN, Heródoto Barbeiro, e sua equipe, tem conquistado cada vez mais ouvintes para a Rádio CBN e afiliadas pelo Brasil, como a JC/CBN em Pernambuco.
Todas as sextas-feiras, por volta das 9h, entra no ar a “Rádio Sucupira”, satirizando os recentes episódios da política brasileira.
Frases e declarações de políticos reais são alternadas com “pérolas” do inesquecível prefeito Odorico Paraguaçu, protagonista interpretado pelo ator Paulo Gracindo na novela “O Bem Amado”, sucesso de público, escrita por Dias Gomes na década de 70. “Escolhemos a sexta por ser o encerramento da semana, propício para o resumo da cena política de forma irônica, bem-humorada e crítica”, afirma Heródoto Barbeiro, um dos fundadores da CBN e gerente de jornalismo do Sistema Globo de Rádio em São Paulo. É ele quem explica: em 2005, durante a crise política do “mensalinho”, que resultou na renúncia do pernambucano Severino Cavalcanti à presidência da Câmara dos Deputados e ao mandato, a CBN buscava material para sua “charge eletrônica”.
A equipe de produção do Jornal da CBN percebeu, então, a semelhança entre discursos e atitudes dos políticos com os do personagem Odorico Paraguassu, “um prefeito demagogo e corrupto, que ainda é o grande exemplo, depois de mais de 30 anos da criação de Dias Gomes, dos escândalos políticos no Brasil”.
Junto com sua equipe, Heródoto começou a editar trechos de discursos dos políticos e das falas de Odorico, mixados à trilha sonora da novela. “Com isso, o que chamávamos no início de Bandinha do Jornal da CBN, foi ganhando vida própria, até chegarmos à Rádio Sucupira”, acrescenta.
O programa se consolidou pela receptividade dos ouvintes e internautas da CBN, que passaram a solicitar cada vez mais a “participação” de Odorico Paraguassu. “Nossa diretora Mariza Tavares obteve do Centro de Documentação da TV Globo um vasto material, que foi separado em frases por nossa equipe”, diz Barbeiro, ressaltando que a genialidade de Dias Gomes e a interpretação de Paulo Gracindo só colaboraram para abrilhantar a criação. “O Bem Amado” é considerada pela crítica um marco na história da TV no Brasil, tanto por sua temática social, como por ter sido a primeira novela inteiramente colorida.
Exibida em 1973, foi reprisada em 1977 e deu origem ao seriado de mesmo nome em 1980, exibido uma vez por semana na TV Globo.
As frases dos políticos são coletadas pela equipe de reportagem da CBN durante a semana, e separadas para a edição de sexta-feira, a cargo do produtor Edmilson Fernandes, que as “amarra” com falas de Odorico.
Recebe, durante o trabalho, o apoio do experiente sonoplasta Cláudio Antônio.
O resultado é inteligente e divertido, até para os ouvintes mais jovens, que não tiveram oportunidade de assistir a “O Bem Amado”.
Após cinco anos, Heródoto Barbeiro evita previsões sobre quanto tempo a “Rádio Sucupira” permanecerá no ar.
Mas aproveita para agradecer aos seus fornecedores de “matéria-prima”: os políticos. “A Rádio Sucupira já foi ao ar aproximadamente 250 vezes.
E vai durar enquanto nossos políticos continuarem produzindo ‘conteúdo’ em seus discursos para nossas edições.” Ou seja, o programa ainda deve durar por muito tempo.