(Foto: Antonio Cruz/ABr) Manoel Medeiros Neto, de Política / JC Poucas horas depois de desembarcar em Rio Branco (AC), onde cumpre a agenda “mais difícil” para decidir se aceita o convite do PV – ela conversa com lideranças do PT no seu Estado – Marina Silva concedeu ontem entrevista por telefone ao JC. “Não vou tirar votos de ninguém”, disse.

JC – Senadora, qual é a programação da senhora nesta viagem ao Acre ?

MARINA SILVA – Acabei de chegar (ontem à tarde) e vou conversar com meus companheiros.

Esse é o momento mais difícil, porque me reencontro com uma história de 30 anos, na luta pelo desenvolvimento sustentável, desde Chico Mendes (seringueiro e ativista ambiental, assassinado há 21 anos), da vitória do ex-governador Jorge Viana (PT), há 12 anos…

Vou conversar com o governador (o petista Binho Marques), com Jorge, o senador Tião Viana (PT) e militantes.

Esse é o momento mais difícil porque é o lado cardíaco.

JC – Qual é o projeto em discussão?

MARINA – A reflexão (de aceitar o convite do PV) não é para desconstruir o que fizemos, mas destacar uma agenda para transformar o Brasil num gigante do desenvolvimento sustentável.

Não em uma perspectiva de futuro, mas para ser prioridade agora.

Essa é a interpelação que eu faço. É difícil, mas é parte daquilo que eu acredito para o Brasil.

E acho que a sociedade brasileira está pronta para isso. É algo estratégico, por mais descarbonização, uma coisa que Barack Obama entendeu e que temos que fazer.

Não somos Ronaldinho, mas temos que fazer a nossa parte.

JC - Como a senhora recebeu a pesquisa de intenção de votos apresentada pelo Partido Verde e as reações crescentes de apoio a uma provável candidatura, sobretudo na internet?

MARINA – Eu tenho uma trajetória já, com Chico Mendes, Alfredo Sirkis (um dos fundadores do PV), com lideranças do próprio Partido Verde.

Inclusive o companheiro Gabeira (deputado federal pelo PV fluminense) foi quem me ensinou o beabá da ecologia.

Temos um projeto pela sustentabilidade e a candidatura neste contexto é apenas um ponto.

Vi a pesquisa, que foi feita por telefone, mas não quero subordinar a minha decisão a ela.

O que quero é um movimento que faça o País se encontrar com os nossos sonhos.

O País está carente disso, os projetos são muito pragmáticos.

JC – Os supostos problemas que a senhora enfrentou com a ministra Dilma Rousseff (presidenciável petista) quando ocupou o Ministério do Meio Ambiente são incentivos para disputar em um palanque oposto ao dela em 2010?

MARINA – Não quero me colocar nesse lugar de candidata.

Não gosto de me colocar no lugar de vítima e também não fico me acovardando.

No Ministério, fiquei, contribui, também fui ajudada.

Trabalhei pela economia sustentável.

Quando vi que não reunia mais as condições de me manter, me afastei e voltei para o Senado.

Fui bem acolhida pela minha bancada, liderada pelo senador Mercadante (SP) e estamos trabalhando para manter a coerência, inclusive nesse caso Sarney achamos melhor o seu afastamento.

JC – Mas existe a possibilidade dela perder votos se você disputar…

MARINA – Não vou tirar votos de ninguém porque ninguém é dono de voto.

Esse é um instrumento do cidadão.

A reflexão maior (de uma possível candidatura ano que vem) é sobre a sustentabilidade, para que isso não seja só um capítulo do programa de governo, mas algo mais amplo, envolvendo a biomassa, a energia eólica…

JC – Hoje, de zero a dez, quais são as chances de trocar o PT pelo PV?

MARINA – Não faço essas aritméticas porque uma nota não resume a grandiosidade dessa decisão.

JC – Vai se reunir com o PV na próxima quarta-feira, em São Paulo?

MARINA – Não.

Depois daqui vou para a Bahia, onde recebo uma homenagem numa Universidade, e depois volto para Brasília.