(Foto: Marcos Michael / JC Imagem) Do Jornal do Commercio deste sábado O prefeito João da Costa não soube explicar, na manhã de ontem, a diferença média de 78% nos preços entre os dois editais de lixo apresentados ao Tribunal de Contas do Estado em dezembro do ano passado e em julho deste ano.
Em entrevista ao repórter João Valadares, disse que era um assunto complexo. “Não vou fazer esta discussão agora com você porque é um edital complexo, certo?” Ressaltou também que a divisão da coleta em dois lotes não é uma invenção e exclusividade do Recife.
JC – Por que a prefeitura insiste num modelo em que os números de estudos técnicos do TCE já comprovaram que trazem prejuízos ao cofre público? É um modelo antieconômico.
JOÃO DA COSTA – O tribunal nem tomou a decisão ainda.
Você está fazendo uma pergunta que ainda tem um tempo para ser realizada.
JC – Não.
Os relatórios técnicos comprovam que o modelo traz prejuízo.
Não se trata da dispensa de licitação, que vai ser julgada na quarta-feira.
O que vai ser julgado é isso.
Estamos falando do modelo.
JOÃO DA COSTA – Mas, em 2002, o TCE aprovou os dois lotes.
JC – Mas os números provaram que não foi econômico para o município.
JOÃO DA COSTA – Não tem nenhuma novidade.
Estamos dando andamento ao que já foi aprovado em 2002.
JC – Por que essa discrepância dos preços do primeiro edital (apresentado em dezembro) para o segundo edital (em julho)?
JOÃO DA COSTA – Você conhece os dois editais?
JC – Sim JOÃO DA COSTA – Sim?
JC – Sim.
JOÃO DA COSTA – Então, quando a gente tiver mais tempo a gente senta. É um assunto muito complexo.
JC – O senhor não pode explicar agora?
JOÃO DA COSTA – Não.
Você que conhece me explique onde tem a diferença.
JC – É apenas uma pergunta.
JOÃO DA COSTA – E eu também estou devolvendo a pergunta.
Se você conhece os dois editais, então me explique onde estão as diferenças.
JC – Há uma diferença de percentual muito grande entre eles.
JOÃO DA COSTA – Onde?
JC – Em média, 78% maior do que o edital que foi apresentado em dezembro JOÃO DA COSTA – Em que item?
JC – Em vários itens.
JOÃO DA COSTA – Quais?
JC – Na pintura de meio-fio, por exemplo, que apresenta um valor muito maior (253% a mais).
JOÃO DA COSTA – Mas isso não está no edital.
JC – Está sim.
JOÃO DA COSTA – Não vou fazer esta discussão agora com você porque é um edital complexo, certo?
O tribunal está avaliando uma proposta feita pela prefeitura.
O tribunal ainda não tomou uma decisão.
Só vou me posicionar quando o tribunal tomar uma decisão.
A prefeitura fez um estudo e tem justificativa para ele.
Tá certo?
JC – Em relação ao Recife Energia, o senhor vê alguma contradição?
A Qualix, que o senhor colocou como incapaz para coletar o lixo do Recife, vai gerir o lixo por 20 anos.
JOÃO DA COSTA – Não.
Olha. É preciso tratar as coisas de maneira diferente.
Do jeito que está tratado parece uma questão de má-fé.
Veja bem.
Há três anos, o consórcio ganhou a concessão.
Naquela época, o desempenho da Qualix foi aprovado por pesquisas.
Era excelente.
Há três anos.
Isso é uma coisa.
A outra coisa era o desempenho da Qualix nesses primeiros seis meses, que ficou abaixo da crítica e eu achei que ela não estava correspondendo às necessidades da cidade e que a gente precisava de outra empresa.
Se ela continua com as condições de tocar o Recife Energia, isso é outro processo que ainda vai ser analisado.
Empresa pode se recuperar.
O Jornal do Commercio chegou numa época que quase faliu, não é verdade?
Aí João Carlos Paes Mendonça comprou o jornal e o transformou numa excelente empresa.
Por que não pode acontecer isso com a Qualix?
JC – Então o senhor acredita na recuperação da empresa?
JOÃO DA COSTA – Acredito que alguém pode comprar a Qualix e ela voltar a ser uma excelente empresa.
JC – Por que a prefeitura manteve, nos preços unitários na dispensa de licitação (com a Vital), praticamente a mesma base do edital que foi questionado e embargado pelo TCE?
JOÃO DA COSTA – A decisão é administrativa.
Quando foi feito em dezembro, o TCE discordou da metodologia dos lotes.
Na verdade não são dois.
São três.
Há um contrato de entulhos que é separado.
A metodologia não é exclusiva do Recife.
Não foi o Recife que inventou. É utilizada na maioria das grandes cidades brasileiras.
São Paulo, que tem 10 vezes o tamanho do Recife, tem dois lotes.
Fortaleza, com um milhão a mais de habitantes, é só um lote.
Salvador e outras cidades também.
Rio de Janeiro tem uma empresa estatal que recolhe o lixo e só tem um lote.
Então, a metodologia (…) Será que todas essas cidades estão praticando uma atividade antieconômica?
JC – Pergunto em relação à repetição dos preços na dispensa.
Vocês repetiram a mesma base do que foi questionado.
JOÃO DA COSTA – Em janeiro, fizemos uma dispensa que foi aprovada.
Em julho, acabou o contrato e fizemos uma dispensa e lançamos um novo edital, e o TCE disse que a gente estava repetindo a metodologia.
Fizeram uma proposta para que a gente revogasse o edital para fazer um novo.
E é isso que está sendo feito.
Para discutir propostas.
Nesse período é que foi feita a dispensa com valores diferentes de dezembro.
JC – O senhor acha que houve uma demora da gestão anterior para apresentar o edital, o que poderia ter evitado esta nova dispensa de licitação?
JOÃO DA COSTA – Não.
Um edital de lixo em todas as gestões é um dos mais complicados. É um processo complexo. É preciso levar em conta a tipologia.
Quanto de lixo é produzido.
Aqui no Recife, a gente tem que levar em conta que 500 mil pessoas da Região Metropolitana frequentam o Centro e produzem lixo.
Como vai colocar isso na conta?
Como você quantifica isso no edital?
Como mensurar quanto essas pessoas depositam de lixo na cidade?
O Recife tem uma tipologia diferente.
Um terço da população mora em morro.
Há escadaria e o caminhão não pode chegar.
Para subir morro, gasta mais pneu, mais combustível.
Tudo isso é diferente.
Então, há uma série de critérios.
Tem um estudo do Tribunal de Contas de Minas Gerais que mostra a complexidade e que, hoje, para montar um edital tem que buscar metodologia que se aproxime mais da realidade.
No segundo edital, utilizamos a metodologia da Fundação Getúlio Vargas, que é aceita pela grande maioria dos tribunais de contas.
JC – Então, no primeiro edital vocês ainda não tinham conhecimento desse estudo?
JOÃO DA COSTA – No primeiro edital… fiz uma dispensa no dia 3 de janeiro.
O contrato original já foi feito com essa metodologia.
JC – Então por que as divergências de preço são grandes de um para o outro?
JOÃO DA COSTA – Não.
Não tem divergência.
Veja bem.
Eu já disse a você.
Você conhece os dois editais?
JC – Sim.
Conheço os dois editais.
JOÃO DA COSTA – E então.
Você poderia dizer onde está a diferença.
JC – Qual sua parcela de culpa em relação ao problema da limpeza urbana nos primeiros meses da sua gestão?
JOÃO DA COSTA – Eu não tenho culpa nenhuma.
Pelo contrário.
Eu arrumei a solução.
JC – E a culpa é de quem?
JOÃO DA COSTA – A culpa é da empresa que não estava prestando um bom serviço.
A empresa estava aqui há 20 anos, rapaz.
Agora você acha que, de janeiro para cá, qual a nota que a população dava para a Qualix?
Havia até uma exigência da mídia.
Quando acabou o contrato, eu tirei a empresa.