(Fotos: Alexandre Severo / JC Imagem) Por Ana Lúcia Andrade e Ines Andrade, de Política / JC Ministro, deputado, secretário e hoje à frente da secretaria estadual das Cidades, Humberto Costa tem uma longa trajetória política e eleitoral no PT.

Acredita que o partido resgatou sua respeitabilidade e mantém a autonomia frente ao governo Lula.

Mas “não conseguiu transformar o apoio popular e o respaldo político que Lula tem num respaldo partidário”. “O governo e Lula ainda são maiores do que o PT”, lamenta.

Líder da ala majoritária da legenda, a Construindo um Novo Brasil (CNB), adversária do Campo de Esquerda Unificado (CEU), o secretário critica a falta de unidade do PT em Pernambuco.

Credita à divisão o “ lugar secundário” que o partido ocupa hoje na política estadual.

E defende que seja resgatado o espírito de unidade que segundo ele ocorreu em 2000, 2001 e 2002.

Nessa entrevista concedida na quinta-feira (6), Humberto fala em tom de desabafo.

Cobra um projeto partidário do PT, que segundo ele deu lugar a “projetos de grupos e de pessoas”.

Rebate os que tentam carimbá-lo de derrotado e manda um aviso curto e grosso para 2010: “Não aceitaremos nenhuma candidatura imposta de fora para dentro.” LULA E O PT “O PT conseguiu recuperar grande parte da sua respeitabilidade e popularidade, as pesquisas mostram que a população acha, inclusive, que é o partido que luta pelos pobres e que ajuda o governo Lula, mas o PT ainda não conseguiu transformar o apoio popular, o respaldo político que Lula tem, num respaldo partidário.

Já tivemos, numa pesquisa que o PT fez, 29% de preferência do eleitorado por um partido.

Mas o governo Lula e o próprio Lula ainda são, do ponto de vista eleitoral, maiores do que o PT.

Mas o PT está vivendo hoje um bom momento.

Tende a fazer uma boa bancada na Câmara dos Deputados e no Senado (nas eleições 2010) e, na pior das hipóteses, manter o número de governadores (o PT, hoje, governa os Estados do Acre, Bahia, Pará, Piauí e Sergipe).

Não há uma falta de autonomia do PT.

O grande problema que vejo, por exemplo, nessa discussão sobre candidatura presidencial, é que nomes como José Dirceu, José Genoino, Marta Suplicy, Antônio Palocci, alguns ex-governadores como Jorge Viana, gente como a própria Marina Silva, quer dizer, pessoas que tinham uma perspectiva muito concreta de serem levadas em consideração nessa disputa (de 2010) e que não estão.

A discussão sobre o nome de Dilma é muito natural porque o fato de ela ter o apoio incondicional e integral de Lula pesa muito.

Não quer dizer que o partido perdeu a sua autonomia.

Se tivesse outros nomes em condições de discutir e de serem avaliados, junto com o de Dilma, eles seriam.” CRISE DO SENADO “O que está por trás desse movimento para desestabilizar Sarney não é nenhum desejo de moralizar o Senado, é uma luta política.

A gente sabe que Sarney não é Madre Teresa de Calcutá.

Mas Sérgio Guerra também não é, Arthur Virgílio não é, o próprio Pedro Simon não é.

O governo está defendendo a sua governabilidade.

E mesmo assim a bancada do PT firmou sua posição política.

Apesar de Lula querer que o PT cerrasse fileiras em apoio a Sarney, não foi essa posição que passou e o partido está respeitando a posição dos senadores.

Não houve isso de obrigar o partido a agir assim ou assado.

Já houve muitos episódios onde Lula teve uma posição e o partido outra. É normal.

O partido entende que tem a sua autonomia em relação ao governo.

No tempo em que o Palocci era o ministro da Fazenda e implementou aquela política econômica, o PT manifestou discordância em relação às técnicas implementadas e o presidente entendeu.

Até porque ele ajudou a construir o partido com essa visão.” O PT NO GOVERNO “O PT está bem posicionado, mas poderia estar melhor.

Os episódios de 2005 e 2006 (referência ao mensalão), e o fato de que precisamos construir uma maioria no Congresso, mais sólida, obrigou o governo a fazer uma aliança mais ampla para a sua governabilidade.

Mas o PT está bem representado.

Lógico que existem episódios que temos de lidar com um pragmatismo muito grande.

Esse do Senado agora é um deles.

Temos de tratar do ponto de vista da governabilidade.

Embora saibamos que existem problemas e que eles precisam ser enfrentados e superados no Congresso.” O PT NO ESTADO “Em Pernambuco, diferentemente de outros Estados, o PT se estruturou com muitas dificuldades.

Porque aqui já havia uma esquerda ocupando o espaço há muito tempo.

O MDB autêntico, depois PMDB, e com o rompimento de Jarbas e Arraes, o PSB.

Para se afirmar em Pernambuco, o PT teve de batalhar, ter presença nos movimentos sociais, e disputar muitas eleições na adversidade.

Conseguimos em 2000, pela primeira vez, transformar esse movimento numa posição hegemônica, quando ganhamos a eleição com João Paulo no Recife.

A tendência a partir daí era a de que o PT pudesse se afirmar como partido hegemônico. 2002 era uma eleição muito difícil, mas em 2006 o PT tinha amplas condições de vencer.

Mas os episódios que aconteceram (em 2006 houve o “escândalo dos vampiros”, envolvendo Humberto em plena campanha), e principalmente a falta de unidade no partido, impediram isso.

Está claro que quando o PT constrói a unidade ele é ator prepoderante na política.

Se ele se divide, passa a ocupar um lugar secundário.

Defendo que a gente resgate o espírito de 2000, 2001, 2002, do PT como partido.

Não há hoje um projeto partidário do PT para Pernambuco.

Há projetos de grupos e de pessoas, o que é pior.

O PT se construiu defendendo uma mudança de valores.

Lutamos para mudar o culto à personalidade, ao personalismo, aos projetos que tratam de pessoas.

E hoje, infelizmente, me parece que as coisas não estão sendo discutidas nessa linha.

Defendo que a gente resgate o espírito de 2000 e que o PT possa construir a sua unidade.

A unidade tática.” AS DIVERGÊNCIAS “Temos (ele e João Paulo) divergências políticas, de cunho ideológico, que se expressam inclusive nacionalmente no PT.

Somos (o campo majoritário, do qual faz parte) defensores de um processo em que a construção do socialismo deve se dar por intermédio da via democrática.

Somos responsáveis pela construção desses 30 anos vitoriosos do PT, inclusive da era Lula.

Defendemos uma política de alianças ampla, o que permitiu a coligação com o PL e a vitória com José Alencar.

Defendemos sempre uma política de convivência com a esquerda dentro de um projeto estratégico.

Então as divergências são várias.

Tínhamos divergências sobre a condução da política econômica.

São divergências também em nível nacional.

Mas isso não impede que, em nível nacional, o PT se unifique.

Apesar das divergências, o PT consegue construir nacionalmente uma política tática comum e unitária.

Em Pernambuco, infelizmente não.” A FORÇA DA CNB “Nossa corrente se constrói coletivamente.

Não sou chefe nem mando em ninguém.

As pessoas que estão na nossa corrente têm suas opiniões, construíram suas histórias.

Ninguém conquistou espaço em cima da estrutura da máquina pública ou da sindical.

Temos 5 deputados estaduais, 4 originários do movimento social.

André Campos está na política há muito tempo.

Temos 2 deputados federais, ambos também originários da luta social.

Nossos vereadores também.

Temos hoje uma presença importante nos movimentos sociais: a maioria da CUT e da Fetape está conosco.

Estamos presentes nos movimentos de bairros.

Procuramos construir um projeto coletivo.

Não mando em ninguém, nem quero ninguém me seguindo como se eu fosse um messias.

Do nosso lado, a preocupação é com o partido e com o povo.” AS DERROTAS “De vez em quando ouço dizerem: ‘Humberto é um derrotado.

Levou 5 derrotas’.

Mas ninguém se lembra de que nas 5 eleições que disputei nós vencemos politicamente.

Não vi nenhum desses campeões de voto se disponibilizarem a compor uma chapa com Arraes no momento mais difícil que o PSB viveu.

Nem nenhum campeão de voto querer disputar, em 2002, contra Jarbas ao governo do Estado, porque a gente sabia que não ganharia.

Se eu tivesse saído para federal, em 98, já tinha o compromisso da bancada de ser o líder do PT.

Mas atendi o chamado do partido e disputei o Senado.

Em 92, nenhum campeão de voto se manifestou para disputar com Jarbas.

Muita gente se elegeu vereador quando fui candidato a prefeito, se elegeu deputado federal e estadual quando fui candidato a senador e a governador, duas vezes. É importante que a gente faça essa avaliação: conseguimos grandes resultados para o PT.

Sou um derrotado mas tive um milhão de votos em três eleições majoritárias.” PROJETO COLETIVO “Essas coisas estão sendo intencionalmente desconhecidas para tentar dizer que tem gente no PT que acerta sempre e gente que não acerta.

Os acertos que a gente teve beneficiaram todo o partido.

Ou será que sem um candidato forte teríamos conseguido eleger quatro federais em 2006?

Ou três em 2002?

Ou três em 1998?

Essa é a questão que está colocada.

Acho que se o PT parar de olhar para os projetos individuais e olhar para o coletivo, é perfeitamente possível recuperar o papel de protagonismo em Pernambuco.

Ora, se a gente vai disputar um campeonato tranquilo, dá para colocar um jogador na posição X, outro na posição Y e outro na Z.

O que não dá é um jogador querer jogar sozinho.

Aí não dá, porque deixa de ser projeto coletivo.” PROPOSTA “O PT não vai pra frente se continuarmos com essa corda de caranguejo: um começa a subir e o outro puxa.

O outro sobe e o outro puxa, e por aí vai.

Isso não leva a lugar nenhum.

Estou propondo que o partido elimine isso.

Não acabaremos com nossas divergências políticas e estratégicas, mas é possível construir uma unidade tática.

Espero que seja.

Do contrário, ou o PT se divide, vai um pedaço para um lado e outro para o outro, o que acho que é muito ruim, ou vamos simplesmente procurar civilizar as disputas e continuar pensando na corrente A e B, em vez pensar no partido.

Se você analisar as últimas eleições, em que João Paulo disputou ou não, o PT sempre foi muito bem no Recife. É inegável que ele é uma liderança importante.

Mas ele ganhou as eleições de 2000 sozinho?

Governou 8 anos sozinho?

Foi reeleito sozinho?

Elegeu João da Costa sozinho?

Claro que não. É um conjunto de forças que, inclusive, vai além do partido.

Ou a gente raciocina assim ou vai entrar numa linha política que não é a do coletivo”.

O PT É QUEM DECIDE “O governador me falou por duas vezes que tinha conversado com João Paulo e feito a sondagem (para ele entrar no governo).

Nessas duas vezes ele falou comigo sobre isso e eu disse que era bom.

Fortalece o governo, de o PT ficar mais representado, e o próprio João Paulo pode ter uma aproximação maior com essas forças.

Afirmamos categoricamente para ele de que achávamos que era uma decisão inteligente e boa para essas forças.

O governador me disse que não havia conotação (eleitoral) e para mim vale a palavra dele.

Porque Eduardo é presidente nacional de um partido e jamais tomaria uma posição que não estivesse sintonizada com a do PT.

E como Eduardo é um homem de partido, ele sabe que a discussão tem de ser feita dessa forma.

Lógico que vamos trabalhar para ter um consenso.

Mas não vamos aceitar nenhuma imposição de candidatura de fora para dentro.

Reconhecemos a importância das opiniões de todo mundo, mas o partido é que vai decidir.

Imposição de fora para dentro pode ter certeza que não vai ter.

A história do PT não é essa.

Lula nunca impôs candidatura a ninguém.

Na eleição passada ele me fez o convite para disputar a Prefeitura do Recife e eu lhe disse que não estava com esse projeto, mas não poderia me negar a cumprir uma tarefa que ele me propunha.

Pedi para que conversasse com João Paulo, ele conversou e João Paulo o convenceu de que a melhor alternativa era João da Costa.

Então Lula não vai impor nomes.

Vai respeitar o nome que o partido escolher”.

HÁ ELEIÇÃO E ELEIÇÃO “Cada eleição é uma partida.

Então vamos discutir quem é que está melhor para entrar naquela disputa.

Na outra pode ser fulano.

Quem não entrar naquele jogo pode entrar no outro campeonato.

E por aí vai. É assim que se faz política.

Até porque um jogador só cansa, né?

O que não pode é ter um mesmo jogador em 2010, 2012, em 2014 ele é jogador de novo, em 2016 escala o outro.

E o resto?

Política é acima de tudo uma ação coletiva e estamos dispostos a construí-la.

Se esse for o espírito, o PT terá um futuro maravilhoso pela frente. É legítimo que o PT em 2014 queira disputar o governo.

Mas é legítimo que o PTB também queira.

Que o PCdoB também, que o PSB queira manter em suas mãos um governo lá.

Então a gente não pode, agora, fazer essa escalação lá da frente.

Vamos sentar e ver o melhor esquema tático”.

OPOSIÇÃO NA CONTRAMÃO “Não existe eleição tranquila.

A eleição tem uma dinâmica que às vezes um fato muda completamente o rumo das coisas.

Não subestimo a direita de Pernambuco.

Essa União por Pernambuco.

Agora existem fatos muito objetivos que mostram que eles terão dificuldades.

Primeiro, falta unidade a eles.

Por exemplo, o senador Sérgio Guerra se posta como um político marcado pela ambiguidade.

Tenta vender uma ideia de que transita de um lado ou de outro.

Isso incomoda o lado de lá.

Como é que Jarbas vai ser candidato se não sente firmeza em um dos que seriam seus candidatos a senador?

Outra dificuldade é o discurso.

Esse pessoal está na contramão.

Pernambuco nunca teve o tratamento que o presidente Lula dá.

E esse povo trabalha 24 horas para desacreditar Lula!

E o mais importante é que qualquer comparativo que se faça, o governo Eduardo é superior aos oito anos de Jarbas". “Não são nem aos quatro.

Na minha área, por exemplo, vamos completar este ano a entrega de 12 mil casas populares.

Nos dois primeiros anos entregamos 6.500 e este ano entregaremos pelo menos 6 mil.

Até o final do ano que vem vamos ter entregue pelo menos 21 mil casas.

E eles não fizeram 10 mil em oito anos.

No transporte público eles fizeram um terminal, nós estamos fazendo 12.

Vamos inaugurar o primeiro agora e o segundo daqui para setembro.

Em 2010, a Academia das Cidades estará, ou inaugurada ou em construção, em todos os municípios do Estado.

Qual é o governo que pode dizer que, no espaço de quatro anos, garantiu uma obra pelo menos em cada município?

E estou falando somente da minha área.

Sem nenhuma arrogância, sem salto alto, acho que a gente tem boa chance de reeleger Eduardo e dar continuidade ao projeto que está mudando Pernambuco”.