Por Edilson Silva Nas últimas semanas alguns episódios envolvendo o tema da segurança pública em Pernambuco nos ajudaram a compreender melhor o alcance e a honestidade das supostas transformações que o governo estadual advoga estar operando na área.

São eles a Conferência Estadual de Segurança Pública, realizada entre os dias 22 e 24 de julho; a Audiência Pública promovida pelo Ministério Público Estadual para debater a qualidade da formação dos novos policiais militares, convocada pela Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania e Direitos Humanos, realizada no último dia 31/07 e protagonizada pelo promotor Westey Conde; e a chegada às ruas dos novos policiais formados às pressas pela Polícia Militar.

A Conferência Estadual de Segurança Pública, que deveria se constituir como momento e espaço de interlocução entre sociedade civil e Poder Público para a busca de alternativas à falência do modelo de segurança pública atual, transformou-se já na sua abertura numa demonstração por parte do governador da negação do diálogo.

A abertura da conferência foi marcada por um paredão do batalhão de choque da PM em frente à entrada principal do centro de convenções onde acontecia uma grande mesa “plural e afinada” em defesa de um novo paradigma de segurança pública.

De frente ao paredão da tropa de choque, algumas dezenas de professores que após fechados todos os canais de negociação manifestavam em greve seu descontentamento com a postura do governador Eduardo Campos.

A sociedade civil presente à conferência redigiu uma moção de repúdio e coletou assinaturas contra a presença descabida dos policiais da tropa de choque, mas a leitura da moção foi protelada pela outra tropa de choque do governador, formada pelo deputado estadual Isaltino Nascimento (PT) e pelo assessor especial do governador, Luiz Ratton, com o objetivo de colocá-la à apreciação quando a conferência já estava esvaziada da sociedade civil e formada majoritariamente por subordinados do governo.

Uma manobra vergonhosa.

A sociedade civil foi brutalmente desrespeitada no exato momento e local em que ela supostamente teria um mínimo de protagonismo.

Já a Audiência do Ministério Público conseguiu desnudar os riscos e a irresponsabilidade do governo estadual ao colocar nas ruas policiais absolutamente despreparados.

Certamente ciente de suas insuficiências, o governo do estado não enviou à audiência o secretário de Defesa Social, Sevilho Paiva, que sequer se dignou a ir ao Ministério Público prestar esclarecimentos quando foi chamado.

O inquérito aberto ainda aguarda a oitiva.

Presente estava Rodrigo Pelegrino, Secretário Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, que diante dos muitos questionamentos do promotor Westey Conde se limitou a afirmar que não conhecia os dados apresentados, momento em que foi informado pela promotoria que os dados apresentados pelo Ministério Público foram coletados na própria Secretaria de Defesa Social.

Um constrangimento.

O governo não soube responder se é correto um policial militar ter menos carga horária de tiro que um segurança de banco, tendo apenas 30 horas de treinamento de tiro seletivo quando o mínimo para conferir um aprendizado elementar é 120 horas.

Se é correto um policial em 2001 ser formado com 2.162 horas de treinamento e em 2009 ir às ruas com apenas 760 horas.

Se com apenas 3 horas/aula é possível aprendizado sobre preservação de prova.

Se com apenas 18 horas/aula é possível ter noções minimamente sólidas sobre respeito aos direitos humanos.

São estes “policiais”, fardados e armados, que estão nas ruas do nosso estado.

O principal argumento do governo é que é ruim com eles, mas pior sem eles.

Um argumento irresponsável é eleitoreiro, de quem não pensa a segurança pública como um processo que tem que se guiar por uma boa base de formação e valorização dos profissionais da área, pensando obviamente nos impactos imediatos, mas também de médio e longo prazos.

Estes novos policiais foram formados tendo que pagar pelo seu fardamento, alimentação e material de apoio. É uma tragédia anunciada.

Por fim, a chegada destes policiais às ruas não deixa dúvidas sobre as intenções do governo.

Com todo o respeito aos policiais, que são também vítimas de todo este processo, mas o governo do estado está utilizando-os como outdoors vivos.

São policiais outdoors.

Colocados estrategicamente nos principais corredores da região metropolitana, na orla, duplas espalhadas onde a classe média passa, onde o povão, espremido em ônibus, passa e pode ver mais policiais.

Só isso.

Talvez a analogia não seja a melhor, mas a sujeira continua sendo jogada para debaixo do tapete, enquanto o corredor onde o padre passa recebeu uma guaribada.

Lamentável.

PS: Edilson é presidente do PSOL-PE e escreve semanalmente para o Blog de Jamildo.