No JC de hoje A lógica de concentrar os contratos milionários do lixo nas mãos de uma única empresa está no nascedouro do sistema de terceirização do serviço no Recife.
Desde que a prefeitura decidiu repassar para o setor privado a incumbência de recolher os resíduos sólidos dos cidadãos recifenses, o bolo sempre foi dividido em fatias desiguais.
O tamanho dos lotes maiores começou com 60%, na década de 80, passou para 70%, nos anos 90, e, em 2002, chegou ao patamar atual de 80%.
Em todos esses anos, a empresa detentora do maior pedaço do cobiçado contrato foi sempre a mesma.
Mudou só o nome.
Era Enterpa.
Depois virou Enterpa Ambiental e, finalmente, Qualix.
O primeiro processo de terceirização ocorreu ainda na década de 70.
A vencedora foi uma empresa paulista, a Limpaper.
A coleta, no entanto, terminou voltando para as mãos da prefeitura, que ficou novamente responsável pela prestação direta do serviço.
Com o tempo, a frota de caminhões se desgastou e a saída para melhorar a qualidade do atendimento acabou sendo a terceirização.
A licitação aconteceu em 85.
Foi nessa época que a Enterpa entrou no mercado do Recife.
Ganhou a concorrência e ficou responsável por 60% da coleta do lixo da cidade.
Os outros 40% continuaram sendo administrados pela prefeitura.
O contrato inicial de cinco anos foi renovado por mais cinco e a Enterpa terminou passando dez anos cuidando do lixo do Recife.
Em 95, quando o atual senador Jarbas Vasconcelos era o prefeito do Recife, aconteceu uma nova concorrência, depois da mudança na lei de licitações, que limitava os contratos de prestação de serviço continuado para o prazo máximo de 60 meses, sem chances de renovação automática por igual período.
Novamente o contrato maior parou nas mãos da Enterpa, que passou a cuidar de 70% da coleta de resíduos sólidos.
Com o prazo de cinco anos vencido, a Prefeitura do Recife prorrogou o contrato por mais um ano de excepcionalidade.
Em 2002, coube ao prefeito João Paulo a tarefa de realizar a licitação.
Foi a primeira vez que houve um processo de discussão com a sociedade, por meio de seminários e debates, para definir qual o melhor caminho para o serviço de coleta no Recife.
O resultado dessa consulta popular e estudos técnicos definiram como a melhor opção a divisão da cidade em quatro lotes.
A decisão, no entanto, terminou em duas fatias de 80% e 20%.
Diferentemente do atual prefeito João da Costa, João Paulo não teve problemas com críticas feitas pela população na gestão do lixo.
Muito pelo contrário.
Os itens coleta e limpeza urbana sempre foram os pontos mais bem avaliados durante os oito anos de administração.