Prezado Jamildo, Como se já não bastasse o caos urbano causado pela irresponsável expansão imobiliária de uma certa Faculdade instalada nas Graças (situação sobre a qual já comentamos aqui), o bairro agora é acometido por uma vizinhança, no mínimo, duvidosa.

Se até então o único problema era a tal superpopulação universitária e seus agregados - vendedores ambulantes, flanelinhas e carros de som -, o bairro das Graças sofre agora com a instalação de diversos empreendimentos irregulares.

E não, não estamos falando de bancas de jogo do bicho, fiteiros e carpintarias clandestinas, velhos conhecidos de nós moradores que, de vez em quando, até que quebram um galho.

A história agora é barra pesada. É que a poucos metros da Paróquia de Nossa Senhora das Graças ergueram-se, nos últimos anos, três “empresas” do ramo de entorpecentes, interrupção de gestação e baixo meretrício.

Ou, melhor dizendo, uma boca-de-fumo, uma clínica de aborto ilegal e um bordel.

Os três estabelecimentos se encontram devidamente disfarçados, distribuídos em um raio de 300m, onde compartilham espaço com edifícios residencias e empresarias, empresas e até a própria igreja.

Até então, nunca se viu ou ouviu nenhum alarde dos moradores sobre suas existências por que, talvez por se sediarem em um bairro tão distinto, todos mantêm suas atividades sob uma discrição exemplar.

A boca-de-fumo, por exemplo, compartilha seu funcionamento nos fundos de um estacionamento clandestino, instalado em um terreno que até bem pouco tempo estava abandonado.

Ali, o comércio tem como política manter seus clientes sob total sigilo e segurança, que inclusive é garantida por um indivíduo devidamente motorizado.

Quem passar após as 23h em frente ao estabelecimento poderá facilmente reconhecê-lo.

Alías, tanto ele quanto sua moto, (in)devidamente estacionada na calçada.

Reza a lenda que o produto é de confiança e até que estudante tem direito a desconto.

Já a suposta clínica de aborto clandestino, esta sim, é discreta ao máximo.

Funciona em uma casa comercial, vizinha a outros empreendimentos ligados à mulher, como salões de beleza, clínicas de estética e de fisioterapia.

Um luxo só.

Sobre esta não tenho muitas referências, confesso, mas diz-se que o trabalho, apesar de irregular, é muito organizado e higiênico.

E o tal bordel?

Bom, este prefere auto-entitular-se “casa de massagens”, a fim de ser mais condizente com o ambiente no qual está instalado.

Nada de som alto, bebedeiras ou atitudes típicas do baixo meretrício.

Ali, o que prevalece é, mais uma vez, a discrição.

Até por que a clientela, que aparenta ter um excelente nível social - vide os automóveis de luxo que se amontoam nas redondezas principalmente nas tardes de sexta-feira - deve ser formada massissamente por cidadãos discretos.

Durante o horário de funcionamento, que raramente ultrapassa as 22h, o pouco entra-e-sai registrado na casa é acompanhado de perto por um funcionário que, além de montar guarda durante todo o dia em frente ao simpático sobrado, conduz a clientela às dependências do estabelecimento com o máximo de rapidez e comodidade. É, Jamildo, já se foi o tempo em que podíamos nos considerar moradores de um bairro nobre.

A falta de planejamento urbano parece ter escolhido as Graças como laboratório e anda jogando por aqui tudo o quanto é mazela social.

Não vejo a hora de termos de volta aqueles pagodões que nos assolaram no início desta década.

Aí sim, somando-o ao tal bordel, à clínica de aborto clandestino e à boca-de-fumo, partiremos para fazer deste um ponto turístico do Recife.

Atração é o que não vai faltar.

Grande abraço, Fernando de Holanda