Por Jório Cruz, no JC desta terça A sociedade assiste, perplexa, mais uma edição da polêmica do destino do lixo urbano.
Cansadas manifestações reiteram que o município “A” não pode receber lixo do município “B”, como se a sociedade ainda fosse a paroquial de ontem.
Todo mundo sabe, ou precisa saber, que não existe mais Recife, Olinda, Jaboatão, Camaragibe…
A sociedade urbana transformou-se.
Ela já é uma só, íntegra, metropolitana.
Seu referencial geográfico é outro e maior que qualquer um desses territórios.
A distribuição de infraestrutura, equipamentos e serviços não segue mais a lógica de outrora.
O compromisso agora é com a cidade, na sua abrangência geográfica mais ampla.
Os gestores municipais não perdem autoridade, como crêem, unindo-se para tomar decisões como essa do lixo e sobre planejamento e provimento de oportunidades aos seus munícipes metropolitanos.
O caso do lixo é um dos serviços que só se resolve por ação conjunta.
As autoridades municipais são as que melhor poderiam compreender essa realidade, porque elas cuidam das pessoas que formam e vivem o fenômeno chamado metropolitano.
Elas ainda têm dificuldade para percebê-lo, porque a cidade que tem compromisso ainda é a do passado.
Chamam-na Recife, Olinda, Jaboatão, Camaragibe…
Não vêem além dos seus próprios muros e esperam sempre que alguém melhor posicionado veja por elas.
O governo do Estado, por exemplo, determinou a construção de 3 hospitais.
Eles não foram distribuídos para privilegiar localidades A, B ou C.
Procurou equilibrar-se observando a geografia da cidade-metropolitana.
Por ainda não reconhecerem que essa cidade tem, cada vez mais, demandas próprias, as autoridades municipais assistem, passivas, o Estado agir por elas.
A Copa do Mundo exige uma arena que, como hospitais, também é equipamento de cidade.
Mas o governo do Estado teve que tomar a iniciativa, até para evitar disputas hegemônicas que poderiam inviabilizar a Copa. É pena que neste caso errou-se no critério, pois não se viabiliza, funcionalmente, tal equipamento, em função de terreno disponível.
Também para ele, quem comanda é a geografia urbana que a sociedade metropolitana estabeleceu.
Tomara que a periferia escolhida dê conta da centralidade que essa arena precisa ter.
O planejamento urbano sem municípios e sem compromisso com a metrópole exibe o seu pior exemplo.
Ele está no absurdo em que a maior oferta de empregos esteja a 60 km do local de moradia dos empregados. É assim Suape, na cidade-metropolitana.
Os gestores municipais ficam devendo mais autoridade nessas decisões, como na do lixo.
Mesmo eleitos sob formato paroquial, os prefeitos devem perceber que não são mais do Recife, Olinda, Jaboatão, Camaragibe…, pois seus munícipes e eleitores vivem outra cidade, em outra geografia.
Com visão defasada, os municípios vêm perdendo autoridade, há mais de 3 décadas, para o Estado, que cada vez mais ascende à condição de Estado-Prefeitura.
Isso não é bom para ninguém.
O lixo, agora, é mais um alerta para as autoridades municipais da metrópole. » Jório Cruz é arquiteto e urbanista