Do Blog de Josias de Souza Reúne-se nesta quarta (5) o Conselho de (a)Ética do Senado.

Na pauta, 11 representações e denúncias contra José Sarney.

A 24 horas do início da partida, o jogo do conselho está jogado.

Os lances estão programados para acontecer assim: 1.

Escalado por Renan Calheiros para presidir o colegiado que deveria zelar pela ética, Paulo Duque (PMDB-RJ) empurrará a encrenca com a barriga. 2.

Informará ao conselho que, de acordo com o regimento do Senado, dispõe de cinco dias para analisar as representações. 3.

Na noite desta segunda (3), Sarney disse a um interlocutor, em privado, que nada será decidido antes da próxima segunda (10). 4.

Vencido o prazo, Duque revelará ao conselho e ao país a decisão que Renan e Sarney já tomaram por ele: as acusações serão enviadas ao arquivo. 5.

A manobra tem amparo no regimento.

O presidente do conselho tem poderes para arquivar denúncias ineptas sem ouvir o plenário. 6.

Duque não deve nem mesmo oficiar Sarney para a apresentação de defesa.

Dirá que as acusações são ineptas.

E ponto. 7.

Farejando o cheiro de queimado, a oposição já preparou o contra-ataque.

Reza o regimento que as decisões do presidente são passíveis de recurso. 8.

Com as assinaturas de cinco dos 15 integrantes do Conselho de Ética, pode-se exigir que a decisão de Paulo Duque seja levada a voto. 9.

José Agripino Maia já dispõe de requerimento subscrito por cinco conselheiros –dois tucanos e três ‘demos’. 10.

Sarney e Renan estimam que, submetido a voto, o arquivamento a ser proposto por Duque prevalecerá por dez a cinco. 11.

O regimento faculta à oposição novo recurso, dessa vez ao plenário do Senado. 12.

Esboçada antes do recesso, a tática do grupo de Sarney foi reiterada em reunião realizada na noite do último domingo (2). 13.

Deu-se numa reunião na casa do próprio Sarney.

Participaram, além do anfitrião, Renan Calheiros, Gim Argello e o ministro Edison Lobão (Minas e Energia). 14.

Participou da conversa também o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. 15.

Acionado por Sarney, Kakay analisara a fundamentação das acusações feitas contra o presidente do Senado. 16.

O advogado informou a Sarney e Cia. que, do ponto de vista estritamente jurídico, as representações levadas ao Conselho de Ética têm peso zero. 17.

Na noite desta segunda (3), Kakay voltou à casa de Sarney.

Saiu de lá convencido de que não terá de redigir memoriais nem fazer a defesa oral do cliente. 18.

De resto, Kakay encontrou um Sarney animado para o embate.

Nada fazia crer que flertasse com a renúncia. 19.

Antes, em diálogos privados que mantivera com milicianos de sua tropa de choque, Sarney já havia se apresentado de lanças em punho. 20.

Sarney animara-se com a refrega que eletrificara o plenário do Senado na sessão vespertina. 21.

Refugiado em seu gabinete, acompanhara pela TV a refrega entre Renan Calheiros, Fernando Collor e Pedro Simon. 22.

Para Sarney, Collor e Renan lograram levar às cordas o desafeto Simon.

Planeja-se fazer o mesmo com todos os que se aventurarem a pedir a sua renúncia. 23.

Nesta terça (4), deve subir à tribuna o líder tucano Arthur Virgílio.

No dizer de Renan, trata-se de um “réu confesso”. 24.

O PMDB arma contra Virgílio uma representação no Conselho de Ética.

O tucano identifica no gesto uma “chantagem”.

Diz que não vai calar. 25.

Até que as acusações contra Sarney cheguem ao plenário, a rotina do Senado deve se resumir a isso: discursos de ataque e apartes de defesa. 26.

Em meio à anormalidade, a bancada governista tentará retomar a normalidade das votações.