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Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, do programa É Notícia, da Rede TV!, o deputado federal e presidente da CNI, Armando Monteiro, alertou que “o Brasil venceu o desafio de controlar a hiperinflação”, mas a estabilidade não é algo que se tenha “conquistado definitivamente”.

Kennedy Alencar - Dr.

Armando, o sr. estava falando sobre as medidas que o governo tomou, que agiu de maneira correta.

Os dados até mostram que a ação dos bancos públicos foi muito importante para garantir o crédito, que a banca provada segurou mesmo e deixou o dinheiro aplicado no tesouro, nos juros da taxa básica, a Selic.

Agora, ao mesmo tempo isso pode legar uma bomba fiscal para o sucessor do Lula, porque essas medidas têm um custo fiscal.

Isso não vai estourar no colo do próximo presidente?

Armando Monteiro - Pra mim essa questão fiscal é sempre um motivo de preocupação, ou seja, qualquer processo de estabilização só é sustentável, e nós estamos nesse momento comemorando 15 anos do Real, é sempre importante lembrar que a estabilidade não é algo que você tenha conquistado definitivamente, ou seja, o Brasil venceu aquele desafio de controlar aquela hiperinflação, mas o processo de estabilização ainda vai exigir um conjunto de cuidados sob pena de nós colocarmos em risco essa conquista.

E aí, a questão fiscal é fundamental.

Se o Brasil não tiver a tal âncora fiscal, se o Brasil não tiver um regime fiscal equilibrado, poderá por em risco o processo de estabilização.

Kennedy Alencar - O sr. vê risco disso acontecer?

Armando Monteiro - O grande problema é o explosivo crescimento do gasto corrente, ou seja, daquele gasto de custeio da folha salarial do setor público, que cresce 13% em valores reais este ano.

Enquanto a arrecadação cai 6% de valor real, os gastos correntes crescem 13% em valor real .

Kennedy Alencar - Nesses gastos correntes há uma rede de proteção social.

Há uma certa demonização do gasto corrente como se fosse só para custear a máquina pública.

Na verdade, bolsa família, benefícios previdenciários, eles estão dentro desses gastos.

Como o senhor estava dizendo há pouco, este tipo de programa ajuda a estimular o mercado interno.

O cidadão que recebe o bolsa família numa cidade pequena, aquilo gera uma renda, tem um impacto na economia.

Na hora da crise o empresário vai lá, bate na porta do governo e pede um benefício.

Essa discussão não é desequilibrada?

Os empresários gostam de ter recurso público, mas demonizam o gasto de custeio.

Armando Monteiro - Nós temos que buscar o equilíbrio.

Todos os países diante da crise adotam medidas contracíclicas, que são exatamente aquelas em que o governo passa a gastar mais na crise.

Isso está correto.

Mas, deve-se atentar para o chamado gasto de caráter temporário.

O que seria?

Um grande programa de investimento em infraestrutura.

Mas quando isso se dá?

Quando o aumento de gasto se dá?

Em despesas que são despesas permanentes, tudo vai ficar a mercê do desempenho da economia no futuro.

Kennedy Alencar - A conta está lá pra ser paga.

Armando Monteiro - Está lá pra ser paga.

Se você retomar o crescimento econômico em bases muito fortes, você compõe isso.

Se não, você tem a despesa contratada e não tem a receita contratada.

Quanto aos programas sociais, ninguém nesse país pode deixar de reconhecer que a ampliação dos programas foi algo muito importante.

Discute-se a questão da porta de saída, se os programas terão um caráter emancipatório, que todos nós desejamos.

Mas, foram importantes.

Tanto que as regiões do país em que se dá a maior presença desses programas são exatamente as regiões que têm crescido mais.

Então, indiscutivelmente, tem um efeito importante.

Mas quando eu estou me referindo a gastos correntes eu olho a questão de dois grupos de despesas.

O funcionalismo, para você ter uma idéia, o aumento do funcionalismo que está contratado, vai ter um impacto de mais de R$ 22 bilhões.

Kennedy Alencar - Agora, fazendo o papel de advogado do diabo, porque eu acho que é uma crítica pertinente mesmo…

Armando Monteiro - E a questão da Previdência, que é uma questão fiscal, essencialmente o desequilíbrio da previdência que é algo preocupante