Por Augusto Coutinho O ditador da Venezuela, Hugo Chávez, aprontou mais uma.
Neste fim de semana, encerrou as atividades de três rádios tidas como “oposicionistas”. É o novo passo do regime em direção a mais plena ditadura.
Mas a fome de Chávez para calar todas as vozes não chavistas está longe ainda de ser abrandada.
Fala-se que estão na lista negra do presidente em torno de mais de cem emissoras de rádio e pelo menos mais uma de TV aberta, a Globovisión, cujo presidente deu uma reveladora entrevista à Revista Veja desta semana.
Na Venezuela, a democracia continua seu longo caminho em direção a um fim vergonhoso.
Seu algoz tem nome e sobrenome e o apoio irrestrito de alguns dinossauros da política que infelizmente ainda circulam por aí.
Inclusive no Brasil.
Silenciosa e cúmplice, a esquerda brasileira observa a agonia da democracia venezuelana.
Sem vergonha alguma, muitos comemoram.
Outros, simplesmente dizem que não se deve interferir em assuntos do país vizinho.
A maioria mal disfarça que se pudesse gostaria de ver um regime similar por aqui.
O petismo, regra geral, parece ter uma espécie de devoção especial ao muy amigo Chávez.
Não uma nem duas, mas todas as vezes que o caudilho destila sua perseguição à liberdade de expressão e aos pilares mais básicos da democracia, a turma do PT concorda, defende ou simplesmente deixa pra lá.
Não consigo entender.
A esquerda brasileira atual, sobretudo o PT, nasceu na luta contra o regime militar de 64.
Defendiam e professavam os ideais democráticos.
Lutaram, e se vangloriam disso, para acabar com a ditadura brasileira.
Por que, então, rendem louros e glórias ao chavismo?
Guillermo Zuloaga, o presidente da ameaçadíssima Globovisión, dá uma dica: Chávez minou a capacidade produtiva do País.
Em dez anos de tormentos, os venezuelanos viram o número de suas indústrias cair 40%.
Como decorrência, hoje, a importação de produtos brasileiros foi multiplicada por dez, enquanto as exportações estacionaram.
O rombo na balança comercial favorável ao Brasil, para o empresário venezuelano, seria uma das explicações para a conivência do nosso presidente com os desmandos de Chávez.
Pode ser.
Mas não explica tudo.
Não explica, por exemplo, a disfarçatez de Lula quando afirmou certa vez que “Chávez pode ser criticado por várias coisas, menos por falta de democracia na Venezuela”.
Incrível, não?
O homem lá fecha tvs, manda e desmanda no judiciário e no congresso, persegue a liberdade de expressão, golpeia a constituição, perpetra perseguições pessoais abjetas (exemplos de cada uma dessas coisas não falta, o Google pode mostrar centenas), mas para Lula Chávez é um democrata.
Para Lula, só para Lula, o ditador dos Andes foi um democrata também quando se negou a renovar a concessão da RCTV, a maior rede de tv aberta da Venezuela, alegando simplesmente que o canal apoiara o suposto golpe de 2002.
Disse o presidente brasileiro na época que a não renovação era plenamente democrática.
Com isso, deve achar que a perseguição sem fim aos meios de comunicação não chavistas ainda em curso também é a mais pura democracia.
Ancora-se num sofisma: o fechamento da RCTV foi apoiado nas leis venezuelanas.
Esquecem o PT e o resto da esquerda, porém, que uma ditadura não se caracteriza pela ausência de leis.
Mas, ao contrário, pelo uso arbitrário delas.
Em Roma, a voz do imperador era lei.
Na Alemanha nazista, os judeus eram perseguidos e mortos totalmente dentro das leis anti-semitas.
Na África do Sul, o Apartheid possuía um sistema legal que o amparava.
Zuloaga pinta um quadro muito diferente do que os petistas veem na Venezuela.
Fala em perseguição a pessoas, a instituições e – muito sintomático e comum nas autocracias mais bárbaras: nazismo, fascismo, comunismo e afins – expurgo de livros das bibliotecas.
Até quando Chávez continuará a destruir a democracia na Venezuela, se é que ainda resta algo a ser destruído, ninguém sabe.
Mas a conivência da esquerda brasileira com o que acontece por lá é algo que continuará sem explicação por muito tempo.
Deputado Augusto Coutinho (DEM) é Líder da Oposição