A palavra gay ainda não faz parte do vocabulário de boa parte das escolas da rede estadual de ensino, não no sentido do respeito e da cidadania.

A sexualidade diferente não ocupa o quadro negro, não é assunto das aulas de educação sexual, nem professores estão preparados para lidar com a questão.

Nesse misto de desinformação e despreparo, alunos gays se tornam alvo fácil de uma escola que ainda não aprendeu a lição determinada pela própria Constituição Federal: saber lider com as diferenças no ambiente escolar.

Professores tratam do assunto como se não estivessem inseridos no contexto e como se não pudessem fazer nada para mudar a situação, mas ficam chocados com o preconceito. “Falando nisso (homofobia), uma vez eu ouvi um aluno dizer.

Gays têm que apanhar para deixar de safadeza.

Tem que apanhar para aprender a andar e falar como homem.

Fiquei arrepiada com tanta agressividade.

Parecia que tinha sangue na boca” contou uma professora de Jaboatão sobre a postura de um aluno sobre os homossexuais.

O retrato da homofobia na rede estadual de ensino faz parte do estudo “As Rosas por Trás dos Espinhos: Discursos e Sentidos na Formação de Professores em Face do Debate da Homofobia” dissertação de Mestrado do professor do Departamento de Letras da UFPE ,Luciano Freitas, para o Centro de Educação da mesma Universidade, sob orientação da Professora Doutora Rosângela Tenório de Carvalho, pesquisadora da FUNDAJ.

Durante 10 meses, Freitas percorreu escola e analisou minunciosamente, uma pesquisa feita pela ONG Leõs do Norte sobre a situação da homofobia em 25 escolas da rede estadual de Pernambuco.

Ele concluiu que é urgente a necessidade de se inserir a questão da homossexualidade nas escolas para acabar com o drama dos alunos gays. “Uma das primeiras coisas a ser feitas, é colocar em prática o que determina a Lei de Diretrizes de Base e Diretrizes do Currículo básico nacional onde se estabelece o respeito às diferenças como temática essencial para o ensino básico” explica o professor.

Histórias dramáticas de alunos que se calam diante do preconceito e que viram reféns do medo de sofrer abusos se refletem diretamente nas estatísticas do desempenho escolar. “É preciso que a formação continuada em Pernambuco, voltada para o combate da homofobia, para uma educacao em direitos humanos, seja continua, nao apenas um projeto ou política de gestão, mas sobretudo, uma política de Estado” conclui Freitas.

Uma professora de uma escola estadual de Olinda, conta um desses dramas de um aluno que acabou sendo reprovado. “Esse menino sofria na mão dos outros meninos.

Até o professor de matemática perseguia o menino.

Ele (o professor) ficavam rindo do penteado dele com franjinha, da voz do menino.

Esse menino, minha gente, foi emudecendo aos poucos.

Eu sabia que tinha alguma coisa errada.

Ele me disse que não aguentava mais ouvir gracinhas e piadas ao seu respeito por conta da sua voz” relatou a professora.

O resultado da pesquisa será apresentado, nesta quarta-feira, às 15 horas, no Centro de Educação da UFPE.

A disertação foi orientada pela professora e doutora Rosângela Tenório.