No Estado de S.
Paulo SÃO PAULO - A decisão judicial que proibiu o *Estado *de publicar reportagens sobre a investigação da Polícia Federal contra Fernando Sarney foi repudiada por senadores.
Na avaliação dos parlamentares, o caminho adotado pela família Sarney de censurar o jornal só agrava a situação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), cada vez mais mergulhado em denúncias de nepotismo, envolvimento em atos secretos e desvio de verbas da Petrobrás.
Na sexta-feira, o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, pôs o Estado sob censura.
Por meio de medida liminar, ele impediu o jornal de publicar as conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal, com autorização judicial, que mostram, entre outras coisas, Fernando Sarney discutindo com o pai a contratação do namorado da neta do senador por meio de ato secreto no Senado.
Para o petista Eduardo Suplicy (SP), a decisão da Justiça fere princípios constitucionais. “A Constituição assegura a liberdade de imprensa, sobretudo em casos de diálogos gravados com autorização judicial. É um direito da população ser informada pela imprensa sobre diálogos que ferem a ética.” O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) considerou “inadequado” o caminho adotado pelo clã dos Sarney.
A situação política do senador, observou, fica mais complicada com a censura ao* Estado*. “Isso agrava a situação dele.
Não vejo o Senado votando mais.
Não vai mais funcionar”, afirmou. “Esse caminho pela Justiça é um retrocesso terrível e injustificável”, continuou. " O Estado já viveu essa situação em plena ditadura, mas hoje isso não pode acontecer, a não ser que o Sarney se considere um homem incomum, como diz o presidente Lula." O* Estado* revelou que o desembargador Dácio Vieira é do convívio social do senador Sarney e do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia.
O registro está numa foto do dia 10 de junho, na qual Vieira, Sarney e Agaciel aparecem juntos no casamento da filha do ex-diretor .
O desembargador trabalhou na Gráfica do Senado durante o período em que Agaciel foi diretor deste departamento. É também ex-consultor jurídico do Senado. “O fato (censura), por ser inexplicável, suscita essas dúvidas: por que o desembargador esteve no casamento da filha do Agaciel?”, indagou Jarbas.
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), também condenou o caminho adotado pela família Sarney. “O que o presidente Sarney deveria fazer é dar suas razões e se defender.
O que ele não deveria é tentar censurar o *Estado * e o restante da imprensa”, disse.
Na avaliação de seu colega de partido Álvaro Dias (PR), o episódio deve intensificar a pressão contra Sarney no Senado. “Isso vai exacerbar a crise, já que o presidente Sarney lançou mão de um expediente autoritário”, afirmou. “É um retrocesso imperdoável.
São resquícios autoritários.
Voltaremos aos tempos da publicação de versos de Camões”, disse, referindo-se ao período em que o Estado, sob censura da ditadura, publicava poemas no lugar das reportagens proibidas.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) também lembrou os poemas da época da censura. “Não esperava que algo parecido fosse acontecer novamente. É uma coisa ridícula, sem sentido.” Revisão Na opinião de Eduardo Suplicy, a Justiça deve rever a censura, não só por causa dos preceitos constitucionais, como também pela relação próxima entre o juiz que concedeu a liminar e Sarney. “Avalio que isso deve ocorrer porque há essa relação próxima do juiz com a família do senador”, disse.
O líder do PMDB e aliado de Sarney, Renan Calheiros (PMDB-AL), não quis comentar a decisão judicial.
O senador apenas reafirmou que o presidente do Senado não cogita, por enquanto, renunciar ao cargo. “O presidente Sarney está firme.
Não interessa ao governo, nem ao partido, sua saída.
Ela só interessa à oposição.” Desafeto de Renan, Jarbas Vasconcelos disse ser impossível arriscar previsões sobre o que vai acontecer no Senado nesta semana, quando terina o recesso parlamentar. " A gente pode ir para um impasse", avaliou.