Réquiem para a Vivace (ou, quem matou quem?) É finda a Vivace e o Recife amanhece em luto.

Vai-se uma das últimas trincheiras da boa música em Recife e, com ela, as sempre boas indicações de suas vendedoras e as belas embalagens negras para presente.

Com o cerrar de suas portas se vai um pouco de uma época.

Foi como na infância não mais achar o refrigerante Fratelli Vita ou não mais assistir os quatro verdadeiros trapalhões no domingo à noite.

O que farei com os meus oito vales?

Mas discordo quando, no retrato-falado, o criminoso descrito é a pirataria.

Bem, sempre é mais fácil bater naquele que não se defende.

Definitivamente não chamo os piratas de indefesos, apenas não ligam para sua reputação.

Entretanto, não considero os mesmos como vilões por completo.

Os piratas não mataram a Vivace.

Quem o fez foi a incompetência.

Uma indústria fonográfica ensimesmada em seus medalhões, jabares e fábricas artificiais de sucesso. É óbvio que a pirataria levou às carrocinhas os mais novos lançamentos da novelas, da Marisa Monte ou do Chitãozinho e Xororó.

Por outro lado nos apresentou a uma série de artistas, bons ou não tão bons, os quais seríamos incapazes de conhecer no formato das grandes indústrias.

Não gosto da Banda Calypso, mas acho interessante como nenhum apresentador faz perguntas aos mesmos sobre os temidos piratas.

Foram em seus carrinhos que os primeiros trabalhos do grupo foram lançados e hoje, sem nenhuma grande empresa por trás, vendem um milhão de cópias por brincadeira.

A Vivace fechou porque lojas como ela foram feitas para um modelo antigo de indústria da música.

Modelo este onde poucos tinham a oportunidade de mostrar e popularizar seus trabalhos, quanto mais em distribuí-los.

Hoje se grava um bom CD em um quartinho.

Basta um computador, um software específico, uma placa de captura e alguns instrumentos.

Sala isolada acusticamente?

Engenheiros de Som?

Já foi.

A Vivace morreu porque não conseguiu prender ar suficiente e passar pelo vácuo.

Tal qual a Varig, fechada por não conseguir associar os baixos preços aos seus serviços de bordo de primeira classe, a indústria continua com um modelo de mercado feito para lojas que não conseguem mais sobreviver a este sistema.

Ou todas viram as Americanas, vendendo CD quebrado em balaios de R$ 10,99, ou deverão ser grandes como a Cultura ou a Saraiva.

Enquanto isso, esperarei que aconteça com ela o mesmo que o Pula Pirata, os Comandos em Ação ou Silvinho Bláu-Bláu.

Tomara que daqui a alguns anos ela volte com o mesmo espírito em outro corpo.

Sessões de incorporação não faltarão e carpideiras, saudosas de passar as faixas no banquinho encostado na parede, serão multiplicadas.

Em meio a tanta tristeza, despedi-me de uma de minhas lojas favoritas adquirindo 27 álbuns maravilhosos os quais lembrarei não apenas pela música, mas pelas últimas viradas naquele maldito mostrador de ferro que atrapalhava quem estava mais à frente.

Mas quem ligava?

Pois é, a Vivace é finda.

O que farei com meus oito vales?

Eduardo Bezerra Biomédico sanitarista e um saudoso cliente PS do Blog: o vídeo musical posto acima nada tem a ver com o texto e tem. É de um filme de minha infância, Fame, de 1973.

Não é encontrado nas lojas, só na grande rede.

O jovem e cabeludo ator e cantor, Paul McCrane, hoje careca, apareceu recentemente sendo torturado por Jack Bauer, na série 24 horas, interpretando seu irmão.

A tecnologia, assim, também trouxe coisas boas.