Editorial do Jornal do Commercio desta terça A destinação do lixo, de origem doméstica ou industrial, é uma questão que envolve e preocupa o mundo inteiro.

Os países mais desenvolvidos também o enfrentam e até recorrem a soluções colonialistas indefensáveis para civilizados, como exportar lixo, inclusive hospitalar, para países com menor grau de desenvolvimento.

Recentemente, as autoridades descobriram contêineres com lixo proveniente sobretudo da Inglaterra em portos da região Sul.

As guias de exportação usadas são fraudulentas e a fraude envolve empresas de lá e nacionais.

Ora, já temos suficientes problemas com o lixo produzido nacionalmente.

Dispensamos essa estranha “colaboração” da Europa.

Será que não bastaram os séculos de colonização?

A União Europeia tem uma rigorosa legislação sobre destinação de resíduos, o que é corretíssimo.

Mas, e daí?

Para bancar os civilizados lá, seus países membros vão mandar o lixo para cá?

Já tínhamos o precedente de exportação para o Brasil de pneus velhos.

Agora aparece essa nova modalidade.

Nós já estamos às voltas com graves problemas de lixões sem tratamento adequado, de lixo hospitalar sem manuseio e destinação corretos, de baixa adesão à reciclagem de resíduos aproveitáveis.

No primeiro semestre deste ano, o Recife penou com acúmulo de lixo, problema legado ao novo prefeito pela administração anterior, apesar de tanto o ex-prefeito João Paulo como o atual João da Costa serem do mesmo partido.

Depois surgiu a questão do lixão da Muribeca, afinal desativado.

Bons estudos sobre o tema e boas propostas de solução não faltam.

A maior dificuldade é o estilo brasileiro de administração, que privilegia a política partidária e o aparelhamento do Estado, em detrimento da boa governança.

Em recente edição do Jornal do Commercio, nossa repórter Angela Fernanda Belfort mostra como o lixo pode ser fonte de lucro.

Num momento em que o Recife enfrenta tantos problemas na área, a nossa pioneira e cinquentenária hidrelétrica fez um estudo mostrando que o lixo pode se tornar uma fonte de receita para os municípios.

O estudo gerou o Projeto Piloto para Recuperação Energética do Biogás no Aterro da Muribeca.

O lixo pode ser rentável gerando energia com a queima do metano produzido e através da venda de crédito de carbono.

Sem se contentar com teoria, a Chesf já implantou projeto experimental na Muribeca, que está usando 38 mil metros cúbicos de lixo aterrado para gerar energia para 150 famílias pobres com média de consumo de 100 kw/hora.

Mas, se o projeto for implantado em larga escala, o aterro tem capacidade avaliada de produzir energia para abastecer mais de 70 mil famílias em idênticas condições.

Se estudos como esse forem levados a sério pelos poderes públicos, a perspectiva é muito boa, tanto para resolver o problema de destinação de resíduos, como para diversificar a matriz energética brasileira.

Ressalte-se que, ao ser queimado, o gás metano vira energia e não vai para o meio ambiente contribuindo para o efeito estufa.

No Brasil, já existem projetos semelhantes.

Na Alemanha, já se transforma quase todo o lixo orgânico em energia.

Além das vantagens enumeradas, a geração de receita com a venda de energia a partir do lixo e com créditos de carbono também poderia aliviar a sociedade de grandes despesas com o serviço de coleta de lixo.

O dinheiro ganho poderia pagar ao menos parte desse serviço, que sofre acusações de superfaturamento.

Enquanto não progridem projetos do gênero, é importante intensificar a educação da população no sentido de praticar e intensificar a reciclagem.

Muitos ainda não a praticam por inconsciente comodismo.

A educação ambiental das crianças nas escolas contribui para mudar essa mentalidade.

Países mais desenvolvidos e, no Brasil, Estados como o Ceará já desenvolvem projetos de energia eólica.

Em Pernambuco, tudo indica que o projeto da UFPE, em terreno da Marinha à margem da Avenida Olinda, não prosperou.

Lembramos que só o lixo doméstico produzido diariamente no Brasil (cerca de 150 mil toneladas), se transformado em energia, poderia significar um faturamento anual em torno de R$ 17 bilhões.