(Charge: Ronaldo / JC) Editorial do JC deste domingo O Senado brasileiro continua fazendo um grande esforço para ter cada vez menos credibilidade.

Depois de quase um semestre na expectativa de ser instalado, o Conselho de Ética escolhe sob tremenda pressão os seus novos componentes, tendo como presidente um apagado segundo suplente de senador carioca, chamado Paulo Duque, de 81 anos e uma ficha de adesismo perpétuo, que o fez estar sempre ao lado do governo nos seus 50 anos de política.

Os senadores Wellington Salgado e Romero Jucá também fazem parte deste impressionante Conselho.

Antes mesmo de ser empossado, Paulo Duque declarou que nenhum colegiado é independente e basta isso para se fazer a ideia precisa do compromisso ético do Senado.

Por declaração exatamente igual, com outras palavras, o deputado do castelo perdeu a corregedoria da Câmara Federal, teve seu nome levado ao Conselho de Ética e foi absolvido, em mais uma retumbante demonstração do relativismo ético dos nossos políticos – ou, pelo menos, de uma grande parte deles, sob a natural liderança daquele outro deputado que disse estar se lixando para a opinião pública.

Agora, pelas mesmas razões a sociedade só pode lamentar o que ocorre no Senado – a Casa dos Horrores, como foi denominada recentemente pela revista The Economist – presidida pelo maranhense, mas senador pelo Amapá, José Sarney.

A primeira impressão de horror no episódio do Conselho foi a defenestração do senador Antonio Carlos Valadares, do PSB de Sergipe, portanto, da base de apoio ao governo.

Ele foi escanteado depois de visto e tido como futuro presidente do Conselho de Ética… porque era ético demais para o gosto da turma de choque de Sarney.

Fica no ar, então, a ideia que a maioria dos senadores brasileiros faz de ética – evidente, tirando-se alguns dos seus notáveis, reconhecidamente corretos e, por isso mesmo, cansados de ir à tribuna para se lamentar.

Ao escolher o presidente do Conselho, ficou em evidência uma das deformações institucionais: o senador sem votos.

Essa é uma figura tão inexpressiva, tão desnecessária e contrária ao sentimento republicano, que faz parte das ideias gerais sobre a reforma política há muito esperada o fim desse subproduto da pior política.

Suplente de senador pode ser qualquer um, apanhado na mesa do bar, porque tem laços familiares, porque faz parte de diretórios partidários, qualquer coisa.

Não precisa ser conhecido e nem sequer se exige que em algum momento de sua vida tenha recebido voto para síndico ou coisa parecida. É, pois, uma figura decorativa e desnecessária.

E, no entanto, lá está, na presidência da Comissão de Ética do Senado, um representante dessa categoria.

Se é pouco esse horror, a escolha de um suplente profissional do adesismo governista para presidir o Conselho de Ética, se não basta saber que ele considera fator preponderante o sentimento corporativo quando diz que nenhum colegiado é independente, acrescente-se ao sentimento de escandaloso descrédito da instituição constar, informalmente, que o quase presidente do Conselho, que chegou a ser cogitado pela base governista, apresentou uma carta renunciando a sua participação naquele colegiado.

Por trás do texto elegante da carta, o rumoroso caso de um senador considerado independente demais para assumir um posto que poderia comprometer o presidente do Senado, sujeito a incontáveis denúncias e diariamente convidado – por membros da mesma Casa – a renunciar ao posto e até ao mandato.

Essa é uma combinação de fatores negativos, condenáveis, horrorosos – como trata a revista editada em Londres –, que faz a política parecer uma atividade suja, deplorável.

E que explica, inclusive, por que eles tanto resistem à ideia de impedir a candidatura de quem tem ficha suja.