Por Cecília Ramos, de Política / JC Não é exagero dizer que em 2010 o governador Eduardo Campos (PSB) deverá disputar a reeleição tendo quase a metade do primeiro-escalão novata.

Ao menos na função. É que 12 dos 26 secretários de Estado deverão se desincompatibilizar da gestão até o dia 3 de abril para concorrerem a mandato de deputado federal, estadual ou ao Senado.

O número de secretários-candidatos subiu com a recente decisão de Eduardo de incorporar à equipe cinco ex-prefeitos: João Paulo (PT-Recife), Luciana Santos (PCdoB), Severino Ninho (PSB-Igarassu), Odacy Amorim (PSB-Petrolina) e Cleuza Pereira (PSB-Salgueiro), única que deve ficar de fora da próxima eleição.

O governador afirma “não ver problema” em uma possível mudança desse tamanho, daqui a nove meses, e garante que caso se confirme, não comprometerá gestão.

Enquanto isso, os 12 desfrutam da vitrine política reservada a quem é governo. É a praxe.

Secretário das Cidades, Humberto Costa (PT) admite publicamente que pretende disputar um mandato de deputado federal.

Ele conta que ainda não está “muito envolvido” na articulação política para 2010. “Mas sou eu mesmo que estou conduzindo as conversas.

Essa parte política não estou delegando a ninguém.

Não é hora.

E isso não vai interferir na gestão”, garante.

Ele comanda toda a área de habitação, trânsito e transporte urbano do Estado.

Está à frente de alguns dos programas de maior apelo social, entre eles, o “Minha Casa, Minha Vida”, programa do governo Lula que visa a construção de 44 mil casas populares só em Pernambuco até 2010.

Humberto tem cortado muita fita nas inaugurações do governo pelo Estado afora.

Até aqui, foram entregues 22 Academias das Cidades, projeto de baixo custo e, certamente, alto dividendo eleitoral criado pelo próprio Humberto.

Sobre os benefícios eleitorais que essas ações trazem, o secretário, que administra verba de quase R$ 500 milhões este ano, é categórico. “É inegável que todas elas nos beneficiam, têm um fundo político, mas isso é consequência do trabalho”.

E frisa que não é o “primordial”, pois já tem visibilidade graças às disputas majoritárias que concorreu e por ter sido ministro da Saúde no primeiro governo Lula.

Secretário de Articulação Regional, Aluísio Lessa (PSB) é uma opção do partido a deputado estadual. É o pré-candidato no governo que mais tem despertado a ciumeira entre aliados em função da sua movimentação.

Aluísio acompanha o governador em quase todas as viagens ao Interior. É o assessor político do Palácio, a ante-sala de Eduardo quando o assunto é prefeitos e vereadores dos 184 municípios. “Sobre a ciumeira, o próprio governador já foi vítima disso nos dois governos de Dr.

Arraes.

As minhas atribuições são inerentes ao cargo que ocupo.

Se não fosse Aluísio, seria outra pessoa a vítima da ciumeira”, defende-se.

Economista, Aluísio foi colega de faculdade do governador e o acompanha desde o movimento estudantil.

O secretário tem sido acusado por aliados de “invadir” bases eleitorais alheias.

O presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa (PDT), queixou-se publicamente, alegando falar “em nome” de deputados descontentes.

Secretário de Turismo, Silvio Costa Filho (PMN) é deputado estadual.

Está no time dos quatro secretários-candidatos à reeleição.

Foi o 13º mais votado do Estado na eleição de 2008.

Especula-se que Silvinho, como é mais conhecido, poderia sair candidato a deputado federal em 2010, numa eventual desistência do pai, Silvio Costa (PMN), em concorrer à reeleição.

A hipótese, hoje, é pouco provável.

Aos 27 anos, Silvio Filho acalenta o sonho de ser prefeito do Recife.

Em tese, pode ganhar mais eleitoralmente permanecendo no Recife, cuidando de perto das bases ao invés de se dividir entre os eleitores e Brasília.

Ex-vice-líder do governo Eduardo na Assembleia Legislativa, ele destacou-se e foi chamado para integrar o governo.

Inicialmente, como uma mera composição política, mas logo teria mostrado serviço e agradado o governador.

Silvinho cuida, este ano, de um orçamento de R$ 320 milhões para tocar projetos de infraestrutura turística.

Ele reserva finais de semana para visitar lideranças políticas e também se faz presente em viagens do governador.

Secretário de Transportes, Sebastião Oliveira (PR) é deputado estadual e pré-candidato à reeleição.

Mesmo que não fale abertamente, trabalha intensamente na sua agenda eleitoral.

Cumpre uma maratona política pelo Interior do Estado quase todo final de semana.

Muitas vezes, vai acompanhado do presidente do PR, deputado federal Inocêncio Oliveira.

Os dois são primos e fazem dobradinha em pelo menos 15 cidades pernambucanas, entre elas Serra Talhada, reduto eleitoral da dupla, e São José do Belmonte.

Inocêncio e Sebastião vez por outra se desentendem e ensaiam rompimento, mas voltam atrás.

Há uma estrutura forte por trás, empenhada em garantir o sucesso eleitoral de ambos.

Sebastião está no time dos secretários que acompanham o governador nas maratonas pelo Interior.

Em geral, são convocados para essas viagens os secretários envolvidos com a agenda administrativa e, claro, que tenham base eleitoral na cidade a ser visitada.

Em 2010, Sebastião será cobrado pelas ações para melhorar a infraestrutura viária do Estado.

As estradas são demandas que o eleitor sempre fica de olho.

Secretário de Articulação Social, Waldemar Borges (PSB) é da tropa de choque do governo Eduardo.

Amigo pessoal do “patrão”, Wal, como é chamado, é uma opção do PSB para tentar a reeleição de deputado estadual.

O secretário-deputado entrou na Assembleia Legislativa como terceiro suplente da coligação.

Ensaiou exercer o mandato nesta legislatura, mas voltou atrás em nome do “projeto do governador Eduardo Campos”.

Licenciado da Assembleia, Waldemar cuida de boa parte da demanda de políticas sociais da gestão.

Atende movimentos sociais, Organizações Não-Governamentais, etc.

Mas o maior desafio do secretário é acompanhar o Pacto pela Vida, projeto vitrine do governo Eduardo para combater a criminalidade.

Quando não está envolvido com os “abacaxis” da gestão, Waldemar Borges cuida do projeto político.

Ele não admite que é candidato, mas está na cota do PSB para disputar à reeleição.

Pode fazer dobradinha com a namorada, a nova secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, Luciana Santos (PCdoB), que vai disputar uma vaga na Câmara Federal.

Secretário de Educação e pré-candidato a deputado federal, Danilo Cabral (PSB) destacou-se na gestão pelo desempenho em um setor que ele não tinha experiência.

Nas avaliações palacianas, estaria dando o recado.

Em momentos de tensão, como nesta recente greve dos servidores da Educação, ele foi poupado.

Para o confronto, foi acionado o secretário de Planejamento, Paulo Câmara, que, por hora, não tem pretensões políticas.

Danilo administra o segundo maior orçamento do governo, R$ 1,3 bilhão (só perde para a Saúde).

Participa de inauguração, reforma ou ampliação de escola, entrega kit escolar e notebook a professor, iniciativas que dão visibilidade. É o único secretário que acompanha o governador em todas as cidades visitadas nas maratonas pelo Interior e discursa em todos os eventos.

Amigo pessoal de Eduardo, Danilo foi o coordenador-geral da campanha dele ao governo em 2006.

O secretário não fala sobre 2010, mas tem articulado sua candidatura a deputado com afinco. É cauteloso, pois não pode criar arestas com a mãe de Eduardo, a deputada federal Ana Arraes (PSB), candidata à reeleição.

Natural de Surubim, Danilo tem bases no Agreste.

Ambos têm como maior cabo-eleitoral o próprio governador.

Na RMR, ele conta com a atuação de várias lideranças.

Secretário de Desenvolvimento Econômico e presidente de Suape, Fernando Bezerra Coelho (PSB) fala que deseja disputar o Senado.

Terá que disputar a indicação com dois aliados, o ex-prefeito João Paulo (PT) e o deputado federal Armando Monteiro (PTB).

Com as sinalizações do próprio Eduardo de que esses últimos devem se confirmar na chapa governista para 2010, comenta-se que Bezerra estaria “descontente” e espera um afago.

Especula-se que pode se lançar deputado federal caso não emplaque seu nome ao Senado.

Mas ele e o herdeiro, o deputado federal Fernando Filho (PSB), desmentem porque atrapalharia o projeto de reeleição desse último.

A base eleitoral de ambos é o Sertão, sobretudo Petrolina, onde Fernando, o pai, foi prefeito duas vezes.

A principal vitrine para ele é Suape.

Fernando tem assento garantido ao lado do presidente Lula, nos eventos.

E também discursa.

Para completar, Coelho é, desde outubro, o presidente do Santa Cruz.

Secretário de Agricultura, Ângelo Ferreira (PSB) ensaiava sair do governo desde outubro do ano passado com o argumento de dedicar-se às suas bases eleitorais.

Mas recuou, este ano, após ser enquadrado pelo governador.

Nos bastidores, especula-se que Ângelo não estaria acompanhando o ritmo da gestão.

Mesmo assim, Eduardo decidiu mantê-lo. Ângelo é arraesista histórico.

Dos tempos que acompanhava o ex-governador Miguel Arraes para cá ampliou muito suas bases, sobretudo na gestão Eduardo.

Ele tem eleitores espalhados em 20 municípios dos sertões do Pajeú, do Moxotó e de Arcoverde. “Preciso dar assistência às minhas bases, mas o projeto do governo é prioridade.

Estou conciliando as duas agendas (política e administrativa) mesmo com o tempo curto”, explica Ângelo, após ser “convencido” a permanecer na secretaria.

Além da alegada falta de tempo para assistir às bases, Ângelo também tinha mais “mobilidade” e estrutura enquanto exercia o mandato de deputado.

Candidato à reeleição, trabalha seu nome em viagens pelo Interior, às vezes, com o governador.