No Jornal do Brasil A situação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ficou ainda mais delicada após a divulgação de diálogos gravados pela Polícia Federal confirmando a sua intervenção junto ao ex-diretor geral da Casa, Agaciel Maia, em benefício da contratação de pessoas ligadas à família Sarney.

Nesta quarta-feira, senadores defenderam que o Plenário do Senado seja instado a decidir sobre a permanência de Sarney no cargo, uma forma de driblar a blindagem promovida por aliados do peemedebista no Conselho de Ética.

Parlamentares do grupo suprapartidário que defende a saída de Sarney da presidência do Senado vão se reunir nesta quinta-feira para estudar, também, uma manobra que antecipe a primeira reunião do Conselho de Ética para antes do fim do recesso parlamentar.

Nesta quarta-feira, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), anunciou que irá apresentar a quarta denúncia contra Sarney ao Conselho.

O senador disse sua equipe jurídica já prepara o requerimento.

Segundo o tucano, a denúncia por quebra de decoro parlamentar ganhou força, pois agora ficou comprovado o envolvimento de Sarney.

Virgílio já protocolou, nesta quarta-feira mesmo, outra denúncia, contra Agaciel, por conta do seu envolvimento na intermediação de nomeações. – Ficou evidenciada a intenção de Agaciel de patrocinar interesse privado perante a administração pública – declarou o líder do PSDB.

O senador José Nery (PSOL-PA) também informou que já pediu à assessoria jurídica do partido que analise a possibilidade de apresentar uma nova representação contra Sarney.

Na avaliação de Nery, as ligações entre Sarney e Agaciel estão “deixa mais do que clara” e persistiram no atual mandato do peemedebista. – O caso foi em 2008, quando ele já era senador, o que confirma a quebra de decoro parlamentar – avaliou o senador.

Os diálogos gravados pela Polícia Federal foram produzidos com autorização judicial durante a Operação Boi Barrica e mostram a prática de nepotismo pela família Sarney no Senado, além de ligarem o presidente da Casa ao ex-diretor-geral Agaciel Maia e aos atos secretos.

Transcrições dos áudios foram publicados pelo jornal O Estado de S.

Paulo.

Em um dos diálogos, o empresário Fernando Sarney, filho do senador, diz à filha, Maria Beatriz Sarney, que mandou Agaciel reservar uma vaga para o namorado dela, Henrique Dias Bernardes.

Nesta quarta-feira, a Diretoria Geral da Casa informou que o servidor será demitido.

Em outra conversa, Fernando Sarney conversa com o filho João Fernando sobre o emprego dele como funcionário do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA).

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) é um dos que participarão dos esforços para antecipar as atividades do Conselho de Ética.

Cristovam também pretende propor na volta do recesso parlamentar em agosto que o plenário do Senado decida sobre a permanência de Sarney no comando da Casa.

O pedetista quer uma espécie de plebiscito para que os 81 senadores se manifestem em votação aberta sobre a saída de Sarney. – Eu vou defender que os senadores se manifestem pessoalmente em um plebiscito dentro do Senado e votem sobre a permanência do presidente Sarney.

Eu não acredito que ele tenha mais de 41 votos nesta quinta-feira no Senado – apostou Cristovam, que também irá propor ao PDT que apresente a sua própria representação contra Sarney.

O pedetista disse ainda que o presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), aliado de Sarney, apesar de ter a prerrogativa de arquivar as denúncias por causa do cargo, não terá agora legitimidade para engavetar as acusações. – Não vamos permitir que essa situação não seja discutida com a rigidez que ela merece.

Se o senador Paulo Duque arquivar as representações, será uma bofetada na cara do povo e isso nós não vamos aceitar – avisou.

Para Cristovam, Sarney avalia ser mais importante do que o próprio Senado. – Vejo com preocupação esse crescente descrédito do Senado que pouco a pouco vai se desfazendo. É como se o Senado estivesse sendo derretido e nós não conseguíssemos resolver o problema.

Nós não vamos suportar mais um ano e meio do mandato do presidente Sarney.

A crise é tão violenta e o Senado está tão pequeninho que não vamos conseguir recuperar a credibilidade com a opinião pública em 20 ou 30 anos.

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) também defendeu que o futuro de Sarney seja decidido pelos parlamentares em Plenário. – O conselho (de Ética) é apenas uma etapa do processo.

A quebra de decoro tem que ser julgada pelo plenário.

O conselho é uma instância primeira – explicou o tucano, que também concorda com a avaliação de que nem mesmo o fiel aliado Paulo Duque será capaz de arquivar o caso contra Sarney. – É a prova material dos fatos.

Este fato por si só torna irreversível o acolhimento por parte do Conselho de Ética contra o presidente do Senado.

Após o recesso parlamentar, em agosto, o Conselho de Ética vai analisar uma representação do PSOL e quatro denúncias do senador Arthur Virgílio.

Integrante da tropa de choque do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), Paulo Duque sinalizou, no ínicio dos trabalhos do Conselho, que tinha disposição de arquivar as denúncias.

A brecha que aliados do presidente do Senado enxergavam, até então, era de que todas as denúncias estavam relacionadas a atos de Sarney anteriores ao atual mandato, o que, pelo regimento, poderia inviabilizar o andamento das representações.

Os diálogos mudaram esse quadro.

Se o processo for aberto pelo conselho, Sarney, pelo regimento, deve ser afastado do comando da Casa. (Com agências)