Por Sérgio Montenegro Filho, no blog www.polislivre.blogspot.com Está se tornando um péssimo hábito dos senhores congressistas ignorar o que pensam os eleitores.
Depois do deputado gaúcho Sérgio Moraes ter dito, com todas as letras, que estava “se lixando” para a opinião pública quando antecipou seu voto pela absolvição do colega Edmar “do Castelo” Moreira no Conselho de Ética da Câmara, agora é a vez do presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), tratar a sociedade com desrespeito e desdém.
Recém-eleito para o cargo - por apadrinhamento do poderoso senador Renan Calheiros (PMDB-AL) - Duque não se fez de rogado.
Aproveitou seu discurso de posse para ir logo defendendo o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), das diversas denúncias em que está envolvido, e que motivaram até agora três pedidos de investigação ao conselho.
Que o senador fluminense torça em segredo pelo correligionário, não se pode impedir.
Mas a sua manifestação precoce em favor de Sarney é mais uma mostra da falta de pudor com que os senhores da Câmara Alta vem tratando quem deveriam representar.
Pois bem, o novo presidente do Conselho de Ética saiu-se ontem com essa: “A opinião pública é muito volúvel.
Ela flutua.
Não temo ser cobrado por nada”.
Deveria temer.
Afinal, como presidente do conselho, cabe a Paulo Duque a posição de magistrado num eventual processo por quebra de decoro aberto contra Sarney.
Bem ao contrário, porém, ele antecipou o voto.
Vale lembrar que o órgão é composto por 15 senadores, sendo dez deles ligados à base aliada do governo e sob o comando de Sarney e Renan.
Devem ser os pizzaiolos aos quais o presidente Lula se referiu.
Há outro agravante à posição assumida por Paulo Duque: ele não tem voto.
Isso mesmo.
Ele é apenas o segundo suplente do ex-senador e governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).
O primeiro suplente, Régis Fichtner, agora dono da vaga, se licenciou para assumir a Casa Civil no governo de Cabral.
Talvez seja por isso mesmo que o novo presidente do Conselho de Ética se sinta tão à vontade para desrespeitar a opinião pública.
No seu discurso de posse no conselho, o “senador” peemedebista afirmou: “Imagino a dificuldade de vocês, que foram eleitos.
Eu não.
Sou suplente.
Só gastei meia dúzia de reais para chegar aqui.
Mas os suplentes têm muita importância nesta Casa”. (Aliás, recomendo a leitura da íntegra da reportagem sobre a posse de Duque, no G1. É uma pérola!) Está certo, “senador”!
Afinal, dos 81 atuais integrantes da nossa Câmara Alta, 22 são suplentes.
Ou seja, 27% dos parlamentares estão atuando sem ter recebido nenhum voto.
Tudo muito natural, em se tratando da política no Brasil.