Por Paulo Rubem Santiago As sucessivas revelações apontando que a Fundação José Sarney tem o senador como controlador de fato de suas atividades e que teria usado documentos falsos para prestar contas de convênio assinado com a Petrobras são suficientes para que o Senado investigue o fato através de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, como fez o Congresso em 2006 com a CPI das Ambulâncias.
Aliás, naquela CPI, foram encontradas também prestações de contas de entidades filantrópicas que recebiam recursos de convênios tendo em suas diretorias alguns familiares e assessores de parlamentares.
Por essa razão apresentei o Projeto de Lei Complementar 21, de 2007, que se encontra pronto para votação em plenário, vedando transferências voluntárias provenientes de emendas parlamentares, quando destinadas a entidades privadas sob controle ou gestão de parentes de parlamentares.
O princípio facilmente se aplicaria às fundações sob controle de parlamentares e seus parentes, como a Fundação Sarney.
O Senador tem o direito constitucional de se defender e é inocente até que se prove o contrário.
Como, porém, se poderá provar o contrário se não se investiga o caso e se o governo tenta blindar o ilustre aliado?
Como poderia uma empresa do ramo varejista ter dado curso de história da arte para a Fundação José Sarney?
Onde está o programa do curso, onde estão seus alunos?
Onde aconteceram essas aulas?
A ética, a legalidade e a moralidade no trato da coisa pública estão acima dos interesses administrativos e eleitorais de quem quer que seja. É lastimável que o presidente do Senado esteja a cada dia mais e mais envolvido em graves indícios de corrupção e desvio de dinheiro público e o presidente do País provoque o seu partido a lhe dar cobertura, numa autêntica operação “abafa”. É verdade que o Senado não pode parar de funcionar por causa dessa crise. É verdade, também, que a Casa Legislativa tem o dever de investigar os acontecimentos.
O que dirá o cidadão comum que se encontra oscilante na fronteira entre a legalidade e o crime vendo uma situação dessas? - “Bem, se Sarney fez e nada lhe acontece eu vou fazer também”.
O Congresso não pode encerrar o semestre sem iniciar a investigação desses fatos, sob pena de mostrar-se conivente com todos os indícios de corrupção já revelados.
O recesso não pode funcionar como mecanismo de esfriamento da crise e manto de proteção de eventuais crimes por ventura relacionados aos indícios já levantados.
Basta de impunidade, investigação já.
Paulo Rubem Santiago - deputado federal (PDT-PE) e coordenador da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção. www.paulorubem.com.br